quinta-feira, 4 de março de 2010

Jader Barbalho: o gazeteiro influente


Lúcio Flávio Pinto

Editor do Jornal Pessoal

Desde que assumiu o mandato de deputado federal, depois de ter renunciado ao de senador, para não ser cassado, Jader Barbalho é um dos parlamentares que mais falta às sessões da Câmara dos Deputados, em Brasília. A escala de ausência é constante e crescente. A cada ano, seu principal inimigo, o grupo Liberal, aproveita o mau hábito do ex-governador para destacá-lo como um dos líderes da gazeta ao trabalho no parlamento. O registro sempre vai para a capa do jornal e recebe matéria destacada em página interna, como aconteceu mais uma vez. O objetivo é consolidar ou incrementar o índice de rejeição ao político mais influente no Pará nas três últimas décadas.

A elevada rejeição a Jader continua a ser o maior obstáculo à sua participação em eleições majoritárias, sobretudo de governador, mas nenhum outro político conseguiu superar sua força pessoal. Nessas três décadas, eventualmente um político se tornou mais forte do que ele ou chegou mesmo a derrotá-lo. Mas enquanto Jader tem conseguido se recuperar dos insucessos e conviver com o estigma ruim associado automaticamente ao seu nome, o vencedor de um dia é o derrotado do dia seguinte, como Almir Gabriel. O inimigo declarado do passado se torna não só seu aliado, como seu dependente. Hélio Gueiros é um exemplo e Luiz Otávio Campos, outro. A relação, porém, é extensa.

Em 2009 Jader Barbalho foi o terceiro deputado federal mais ausente da Câmara: compareceu a apenas 31 das 115 sessões realizadas (27%). Ele perderia o mandato se o artigo 55 da Constituição, que pune com essa pena quem falta a um terço das sessões, tivesse aplicação simples. Mas os próprios deputados encontraram, em 2006, uma maneira (dentre outras) de evitar a punição: basta que o gazeteiro justifique a ausência. Jader justificou 70% delas, deixando sem explicação apenas 3%. O efeito é ser descontado pelo valor individual dessas sessões, o que é nada para ele (e para muitos outros parlamentares, que não se preocupam com a perda de dinheiro; dentre eles, o campeão é outro paraense, o polêmico Wladimir Costa, com 31 faltas não justificadas).

Apesar desse fato, ano após ano o Diap (o órgão que dá assessoria parlamentar aos sindicatos) inclui Jader na relação dos 100 políticos mais influentes no Congresso Nacional (incluindo o Senado). A avaliação considera, além da freqüência às atividades no plenário, a atuação nas comissões e outras participações internas. Há políticos que revelam sua importância justamente nesse tipo de trabalho, que aparece menos do que os discursos na tribuna ou as intervenções no plenário, mas que pode render muito mais. Assim como há políticos que sempre se destacam, tornando-se foco permanente de atenção pela imprensa, mas não rendem concretamente. Sua especialidade é a retórica.

Num parlamento sólido, a produtividade é medida por esses dois planos de participação, que se complementam: a preparação dos projetos e a discussão das matérias de interesse público e sua votação em plenário. Mas no Brasil não só os próprios parlamentares têm contribuído para desvalorizar e desacreditar sua instituição, como o executivo federal capricha para fazer das deliberações um jogo de cartas marcadas. O abuso do ilegítimo poder de legislar através de Medidas Provisórias, a prática das compensações individuais por votos cabalados e outros métodos têm contribuído para diminuir ou, às vezes, anular a presença do parlamentar em plenário. Daí a relação dos políticos mais influentes selecionados pelo Diap incluir vários dos gazeteiros.

Com Jader Barbalho há uma especificidade: desde que se tornou o símbolo do desvio de dinheiro público e do enriquecimento ilícito, ele se especializou em atuar à sombra, nos corredores e gabinetes do parlamento. Sua eficiência só pode ser adequadamente mensurada por aqueles que conhecem e também freqüentam esses caminhos, dentre eles os representantes e mensageiros avançados do governo. O que explica aquele gesto surpreendente do presidente Lula em Belém, quando beijou a mão de Jader e o consagrou como eminência parda. Para desespero dos que pretendem destruí-lo, às vezes sem dele se diferenciar ou sem dispor das qualidades que fizeram de Jader o político mais importante do Pará nas últimas três décadas. Período no qual, inclusive pelo uso negativo dessas qualidades, o Pará cresceu como rabo de cavalo: para baixo.

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