quarta-feira, 24 de março de 2010

Resíduos são transformados em revestimento e decoração ecológicos


Ary Dionor

Arquiteto


Todos os materiais obtidos através de fontes renováveis, do aproveitamento de resíduos que seriam descartáveis e da transformação da matéria-prima natural em produtos finais para serem usados na arquitetura são materiais ecologicamente corretos.

Percebo que para aqui usarmos os materiais ecologicamente corretos, dependemos da criatividade dos arquitetos na transformação do que temos na região, além de investimentos em pesquisas no desenvolvimento desses produtos afim de que sejam economicamente viáveis, “socialmente justo e culturalmente aceito”.

Mesmo nos grandes centros, temos dificuldades de encontrar tais materiais, a exemplo, ao construir uma residência em Recife, fiz um via sacra para encontrar um revestimento de parede tipo pastilha feita de pedaços de casca do coco polida para uso sobre uma bancada de banheiro. Seu preço era duas vezes maior que uma pastilha de vidro ou cerâmica.

Penso que em Santarém temos bastante potencial de uso dos recursos da natureza na área decorativa ainda não usadas.

Por exemplo, me intriga bastante o processo de tintura usada nas cuias de tacacá. É uma pintura altamente durável, impermeável e anti risco. Neste sentido poderíamos aproveitar esta técnica e não apenas fazer cuias, mas sim, cortá-las em pequenos pedaços (como uma pastilha) e através do mesmo processo teríamos como produto final um ótimo revestimento de paredes, a exemplo das pastilhas feitas de casca de côco de Recife, com muito mais qualidade. E a particularidade de só ser feita aqui na Região.

Para quem deseja conhecer o processo aqui vai um resumo:

“Após ter sido limpa, ferve-se a cuia, acerta-se de escama de pirarucu e, depois, tinge-se a cuia com o cumatê (tinta natural vermelho-escuro, tirada da casca do axuazeiro). Logo após, a cuia vai para a "cama", onde é feita a fixação da tinta na peça, ou melhor, nas peças, porque são feitas várias de uma só vez. Nessa altura do processo, as cuias são colocadas em cima de um local com urina de mulher e cinzas, e são cobertas com palha, após o que ficam prontas”.

Outro tipo de aproveitamento seriam as “costaneiras”, ou seja, aquela primeira tira do tronco da árvore que é descartada ao ser cortada para beneficiamento. A casca da árvore. Caso seja imersa em líquido antifungo, e devidamente protegida, servem para divisórias, e revestimento de paredes para quem deseja um efeito rústico; para execução de piso; para fabricação de mesas e cadeiras, entre outras aplicações.

Temos inúmeros subprodutos possíveis de serem usados com os pedaços de madeira que são descartadas pelas serrarias.

Enfim, o uso desses produtos em Santarém, ainda está muito na fase artesanal, o arquiteto tem que “dar seu jeito” se quiser inovar e usar produtos ecologicamente corretos da região, ou ainda importá-los.

Nos dois casos o valor da obra fica mais elevado, direcionando para que só os que têm boas condições financeiras possam usá-los.

Empresas preocupadas na transformação desses materiais para uso na construção investem bastante em pesquisas e tecnologia para enfim terem lucro com sua comercialização.
Na primeira, como exemplos já têm à disposição em Santarém, placas prensadas com resíduos de madeira que substituem a tábua de madeira bruta (obtidas da serra de toras)na execução de formas de pilares e vigas, além de tapumes de obra.

Essa substituição da placa pela tábua ainda está sendo pouco usada, devido de um lado, a facilidade da compra da tábua bruta em nossa região (apesar do preço estar nas alturas).De outro, a falta de conhecimento de que o uso das placas além de ser mais barato economicamente tem a vantagem de não contribuirmos para o desmatamento.

Na etapa do revestimento e decoração, não chegam a Santarém muitos desses produtos devido, logicamente, nosso mercado ser ainda pequeno, o que obriga os arquitetos, quando desejado, a importá-los das capitais.

Portanto o uso dos materiais de revestimento disponíveis nas lojas de materiais de construção ainda é o mais utilizado, como exemplo o Porcelanato, usado em pisos, e as pastilhas em paredes. Derivando-se que para o arquiteto criar, vai depender de importar ou usar o que tem.

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