terça-feira, 15 de junho de 2010

Sociedade ainda é apática contra agressões ambientais à Amazônia

Mídia teria papel importante em campanhas de educação ambiental. Pesquisadores sugerem abertura de espaço para cientistas com experiência sobre o ambiente amazônico /MONTEZUMA CRUZ
Mídia teria papel importante em campanhas de educação ambiental. Pesquisadores sugerem abertura de espaço para cientistas com experiência sobre o ambiente amazônico /MONTEZUMA CRUZ

MONTEZUMA CRUZ

Amazônias

BELÉM, Pará — Tragédias ambientais na Amazônia ocorrem em regiões remotas, longe dos olhos da maioria dos cidadãos, principalmente dos grandes centros populacionais. Talvez esta seja uma das razões para que a sociedade brasileira ainda esteja apática quanto à escalada desses problemas.

Os pesquisadores Raimundo Nonato Brabo Alves e Moisés de Souza Modesto Júnior, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) chegaram a essa conclusão, após avaliarem ao acaso 60 matérias jornalísticas publicadas no triênio 2006/2007/2008, nos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.

Os dois são engenheiros agrônomos vinculados à Embrapa Amazônia Oriental, em Belém. Brabo Alves é o chefe do Núcleo de Apoio a Pesquisas e Transferência de Tecnologia do Baixo Tocantins e Modesto Júnior, especialista em marketing e agronegócio. A pesquisa foi apresentada durante o 7º Congresso Nacional de Meio Ambiente, em Poços de Caldas (MG), no final de maio.

— O resultado satisfatório clareou a realidade que muitos desconhecem, mesmo com as imagens de satélite, que estão cada vez melhores — comentou Brabo Alves. Ele comanda o Projeto Trio da Produtividade na cultura da mandioca, associado ao Projeto Tipitamba e ao Sistema Bragantino. Os três obtiveram êxito com roçados sem fogo no nordeste do estado e no Baixo Tocantins.

Maior documentação com imagens aéreas de ocorrência do fogo e desmatamento sensibilizaria mais, opinam os autores da análise. Eles sugerem campanhas permanentes na mídia, abordando a dimensão do desmatamento, os números e os recursos financeiros envolvidos no crime do tráfico de animais silvestres, as perdas em divisas para o Brasil com a prática da biopirataria e outros.

— Isso ajudaria a formar uma consciência coletiva de preservação na sociedade — acreditam.

Desmatamento e incêndios

Quais as correlações de problemas ambientais da Amazônia brasileira com as diferentes fontes de financiamento? Quais os estados mais citados por problemas ambientais? Quais as correlações de problemas ambientais da Amazônia com os países amazônicos?

Esse conjunto de indagações possibilitou aos pesquisadores maior reflexão a respeito da maneira como a mídia trata as questões ambientais no País. Também revelou quais as instituições mais citadas e os problemas de maior gravidade.

O desmatamento liderou, com 46% de participação; o segundo, o aquecimento global com 14%, numa relação de causa/efeito do próprio desmatamento. O desflorestamento na Amazônia Legal foi de 18.226 km² em 2000, elevando-se para 27.423 km² em 2004, e caindo para 12.911 km² em 2008.

Os estados com maior freqüência na mídia por problemas ambientais são Mato Grosso (34%), Pará (29%), Amazonas (19%), Rondônia (15%) e Roraima (3%). Amapá e Acre aparecem apenas pontualmente.


Desflorestamento caiu, no entanto, desde 1988, quando começaram as estimativas, esses números nunca estiveram abaixo de 10 mil km². Estudo atribui essa queda ao resultado da democratização de informações  difundidas pela mídia /GREENPEACE
Números do desmatamento nunca estiveram abaixo de 10 mil km². Estudo atribui essa queda ao resultado da democratização de informações difundidas pela mídia /GREENPEACE

Mais informações, mais conhecimento

—Quando começaram as estimativas, os números do desmatamento nunca estiveram abaixo de 10 mil km² — assinala Brabo Alves. Segundo ele, essa queda “certamente é resultado da democratização de informações que a mídia difunde para a sociedade, ao divulgar os indicadores de desmatamento e outros crimes ambientais”.

— Isso estimula o senso crítico coletivo e as ações repressivas — considera Modesto Júnior. Lembra que a conscientização dos extrativistas, quilombolas e indígenas, sob a orientação principalmente de organizações não-governamentais (ONGs), provocou o confronto entre as fronteiras de interesses, na medida em que aumenta a área desmatada.

— A mídia explorou intensamente o conflito de interesses entre rizicultores e indígenas em Roraima. Entre madeireiros e pecuaristas contra extrativistas na Reserva Verde Para Sempre. Entre grandes projetos hidrelétricos e ambientalistas no Rio Xingu. Entre mineradoras e indígenas no Alto Rio Negro no Amazonas — registram os pesquisadores.

A ação mais comentada foi a repressão com 20% de freqüência. A mídia ressalta que as medidas repressivas como a operação Arco do Fogo, que teve como primeiro alvo o município de Tailândia, no Pará, só contribuíram para intensificar os problemas sociais

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