sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Belo Monte e a eleição

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal


No mesmo dia em que anunciavam o resultado da eleição geral realizada na véspera, graças a uma apuração ultramoderna, praticamente concluída apenas seis horas depois do fim da votação, os jornais da segunda-feira seguinte dividiam o espaço da cobertura política com notícias que pareciam se referir a outro país.
Era como se houvesse um muro invisível - mas efetivo - separando o mundo das representações do universo material. As criações simbólicas de um lado e a realidade concreta e viva do outro. A dissociação entre a política e a sociedade. Entre o aparato institucional, que regula e normatiza as relações sociais, e a vida cotidiana das pessoas. Entre poder e povo. Entre governantes e governados. Entre elite e massa.
A separação em si não é patológica nem privativa do Brasil: faz parte da natureza humana. O tamanho da distância entre os que estão no alto da pirâmide social e aqueles que mal os divisam, a partir da base, de onde raramente conseguem sair. é que constitui a principal marca do Brasil. Marca negativa. De um dos países mais desiguais que há. Apesar de toda a ascensão social promovida nos últimos oito anos pelo governo Lula, entre o nível da miséria e o estrato inferior da classe média.
O jogo democrático do dia 3 foi praticado, os eleitores compareceram às suas seções, onde poucos foram os incidentes, proporcionalmente ao tamanho do país e ao volume da sua população, e os votos digitalizados foram rapidamente totalizados (ainda sem a prova material do voto impresso, inovação simples, mas de efeito poderoso para afastar os receios quanto à manipulação dos programas da urna eletrônica). Antes que o domingo se encerrasse já se sabiam dos nomes de quase todos os eleitos ou daqueles que ainda se defrontarão num 2º turno, no dia 31. Poucas nações podem realizar um espetáculo desse porte.
No entanto, fica a sensação de que a substância das coisas não foi alcançada pela manifestação dos 111 milhões de eleitores brasileiros que votaram. Nem mesmo as formalidades do processo, conforme os parâmetros universais da democracia. A corte suprema deixou pendentes definições essenciais sobre a legitimidade da votação e a própria lisura da tutela jurisdicional do Estado.


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