segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

SUS adota novas regras para uso de remédios em hospitais

Preocupado com os altos custos de operação da rede hospitalar do Sistema Único de Saúde (SUS) e com a segurança dos pacientes, o governo federal decidiu reformular o funcionamento das farmácias dos hospitais públicos do país, nos âmbitos federal, estadual e municipal.

Com a portaria 4.283, em vigor desde o início do ano, o Ministério da Saúde prevê a modernização das farmácias hospitalares e a racionalização e economia no consumo de medicamentos. Além disso, a portaria obriga a contratação profissionais especializados para atuar nas unidades farmacêuticas dos hospitais do SUS, da administração direta e também aqueles conduzidos por entidades privadas e filantrópicas. A nova política, que substitui diretrizes fixadas em 1977, foi discutida e aprovada em parceria com entidades dos setores de saúde e farmacêutico.

O consumo de remédios e materiais médicos - próteses, injeções, luvas, suturas - pode representar entre 30% e 40% do orçamento de um hospital, dependendo da complexidade dos procedimentos realizados na unidade.

Na avaliação de Tércio Egon Kasten, presidente da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde de Santa Catarina e vice-presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), melhorias na gestão das farmácias podem até reduzir o valor de alguns procedimentos. "A portaria altera toda a questão da gestão da farmácia como um grande setor do hospital, que influencia muito o custo da unidade hospitalar, inclusive a formação do preço dos procedimentos e clínicos e cirúrgicos", opina Kasten.

José Miguel do Nascimento Júnior, diretor de assistência farmacêutica e insumos estratégicos do Ministério da Saúde, destaca a distribuição mais racional de medicamentos aos pacientes em tratamento na unidade hospitalar.

"O resultado prático esperado é que a saúde tenha melhor desempenho. Em alguns hospitais será necessário mais investimento, mudança do processo de trabalho, um sistema informatizado", diz Nascimento. "A gestão deve ser mais racional: é preciso ter 13 tipos de anti-inflamatórios no estoque? Não dá para trabalhar com 8 ou 6? O paciente deve ter melhor orientação e tomar apenas o que o farmacêutico prescreveu.".

Nascimento diz que há muito desperdício e riscos ao paciente por causa de erros no fornecimento e na prescrição de medicamentos, devido à falta de profissionais qualificado nas farmácias hospitalares. As antigas diretrizes de funcionamento das unidades farmacêuticas, de 1977, exigiam a presença de farmacêuticos apenas em hospitais com mais de 200 leitos, o que foi revogado com a nova portaria. As farmácias dos pequenos hospitais eram consideradas dispensários de remédios.

Ao longo dos anos, essa interpretação mudou, e o Brasil não acompanhou a tendência. Os hospitais ficaram menores e mais complexos. "Temos muitos hospitais com 20, 30 leitos fazendo cirurgias cardíacas, neurológicas, com departamento de oncologia. Eles demandam drogas de grande complexidade, que precisam ser controladas por alguém especializado. Não é o médico nem o enfermeiro que cuida disso", explica Kasten. Segundo ele, um hospital do porte do Albert Einstein, em São Paulo, tem uma farmácia com mais de 40 pessoas. "Enquanto isso, temos hospitais no interior que não têm sequer um farmacêutico. Essas unidades manipulam medicamentos fortes e caros, como antidepressivos, antineoplásicos e radiofármacos."

A portaria 4.283 também servirá para organizar a formação de pessoal do setor, como campo de estágio e treinamento para estudantes e novos profissionais.
(Fonte: VALOR – SP)

Nenhum comentário: