sexta-feira, 10 de junho de 2011

O público dos jornais

Lúcio Flávio Pinto

O Amazônia foi criado para concorrer na faixa das classes C, D e E com o Diário do Pará, no momento em que o jornal dos Barbalhos avançava nesses segmentos da sociedade, que tiveram acesso ao consumo a partir do Plano Real e passaram a contar como compradores. Dez anos depois, o que o jornal mais novo da família Maiorana conseguiu de mais efetivo foi deslocar o antigo líder do mercado, O Liberal, para a terceira posição, algo impensável antes.

Foi um autêntico tiro no próprio pé, disparado por uma estratégia completamente equivocada. Quando o Amazônia começou a circular, o principal apelo para manter os que já liam jornais ou criar novos leitores era o preço. O diferencial em favor do Diário era custar 75% ou 50% a menos do que O Liberal, sem diferenças substanciais de conteúdo para as camadas tradicionais e com uma novidade para aqueles que se aproximavam pela primeira vez das bancas e dos jornaleiros: cadernos especializados em polícia e esporte, com linguagem popular e sensacionalista. Quem passou a comer frango, mesmo sem estar doente (quando pobre comia frango, antes do Real, um dos dois estava doente), passou a comprar um jornal que pesava pouco no bolso. Era o Diário.

No princípio, o Amazônia teve o mesmo preço do concorrente. Mas quem optara pelo jornal dos Barbalhos não viu motivo para se transferir para o caçula dos Maioranas. A tendência dominante foi a que uma análise mais atenta podia prever: muitos leitores preferiram trocar O Liberal pelo Amazônia, que saía muito mais barato e tinha o principal do irmão mais velho.

Resultado: os responsáveis pelo mais recente dos jornais diários de Belém não puderam comemorar sua façanha, no mês passado, que foi subir para o 2º lugar, abaixo do Diário. Só aos domingos a venda de O Liberal cresce o bastante para fazê-lo subir um posto. Mas até quando?

O jornal se restringe cada vez mais aos leitores das classes A, B e C, mas tendo que dividir esse mercado com o concorrente direto, o Diário do Pará, e o competidor involuntário, o Amazônia. Não só por não oferecer um diferencial de qualidade (exceto aos domingos para um tipo de público atraído por miçangas e paetês encartados em tablóides de variedades e futilidades), mas porque o mercado de impressos encolheu.
É fenômeno mundial, acentuado numa cidade de baixo poder aquisitivo, como Belém, o que explica os jornais dos Maioranas não terem mais nenhum auditor de verificação de vendagem, enquanto o único filiado ao IVC, o Diário do Pará, não divulga as suas sérias e caras estatísticas, preferindo recorrer ao índice de audiência do Ibope, que não mede vendagem efetiva.

Numa sociedade obrigada a circular pela imprensa em vôo cego, o nivelamento acaba sendo por baixo.

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