terça-feira, 12 de julho de 2011

Minha Primeira Festa Literária Internacional de Parati


Ruth Rendeiro

Jornalista

Nada muito programado.Um convite da Rebecca, colega do curso de Jornalismo Literário e a empolgação ficou latente. Pensei na Anaterra, na oportunidade rara de apresentá-la a esse mundo, já que anda ameaçando fazer jornalismo. Confesso que sabia pouco da Festa... Cheguei a confundir esse F com Feira. Uma bienal mais bucólica talvez. Fui...


A maioria das pessoas acha tão difícil se deslocar de ônibus, sair de uma cidade pra outra, eu apenas vou, chego e aproveito. Aconteceu de novo em Paraty. Viajamos de madrugada para economizar uma diária e percebi (ou melhor, senti) apenas que a estrada tinha muitas curvas e lombadas. Pela manhã a bela surpresa: a pousada, hotel/albergue ou Hostel como é moderno chamá-las agora, a Sereia do Mar, ficava em frente à praia. Bastava sair do pequeno quarto e lá estavam aquelas enormes montanhas como se molhassem seus bicos gigantes na água azul. Nem mesmo o tempo nublado e o frio tiraram a beleza.

Hora de ir ao Centro Histórico. Ainda só eu e Anaterra. A Rebecca só chegaria no dia seguinte. Pegamos um ônibus e saímos meio sem direção. Não foi difícil encontrar as janelas e portas altas em tons fortes de azul ou amarelo. Estava agora de fato em Paraty! Mais uns metros equilibrando-me nas pedras que são ruas e calçadas, lá estavam as tendas que seriam disputadíssimas durante os próximos quatro dias.

Como marinheira de primeira viagem fiz algumas burradas. Não comprei com antecedência os ingressos, queria poder decidir lá, sentir o clima e optar, ser antes apresentada à grande festa. Isso, porém, não combinava com a Tenda dos Autores. A platéia que ficava frente à frente com as celebridades comprara bem antes pela Internet. Tudo estava esgotado. Mas o telão oficial, o telão da Petrobras, da CPFL ou os bancos espalhados pelas redondezas estavam à disposição. Só não acompanhou o frenesi de celebridades das palavras quem não quis.

Calcula-se que cerca de 25 mil pessoas tenham pisado naquele solo secular. Os bastidores são sempre movimentadíssimos, o disse-me- disse ou as análises sobre fulano e beltrano melhores ainda. Obviamente não sabia, mas cada Flip tem uma musa. A deste ano foi a argentina Pola Oloixarac. Jovem (em torno dos 30), embora tenha só um livro – Teorias Selvagens – mexeu com todos e lotou a tenda dos autores, telões e principalmente foi responsável pela maior de todas as filas para os autógrafos. Ao se expressar, porém, deixou muito a desejar. O comentário de sua performance totalmente incompatível com o que foi repassado aos que foram a Paraty, causou outro tipo de frisson.

O neurocientista Miguel Nicolelis e o o filósofo e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé, foram os primeiros que eu parei pra acompanhar concentrada. A conversa foi cordial demais para o meu gosto. Achei que iam debater bem mais pela visão antagônica que acreditava teriam. O neurocientista fez a festa particular dos jornalistas, titulando a matéria do dia seguinte ao afirmar que milagre é algo que fazem em seus laboratórios Uma palavra que deveria fazer parte do vocabulário da neurociência.

James Ellroy, que me lembrou uma Dercy Gonçalves de saia e erudit, falou palavrões, disse que se fosse um líder religioso seria Deus e encantou a platéia, entre os novos fãs do senhor de 64 anos, minha filha, de 15 que entrou na fila para ter em seus dois livros o autógrafo do autor. Teve muita gente mais : João Ubaldo Ribeiro, Edney Silvestre, Teixeira Coelho.... e uma programação específica para as crianças –Flipinha – e outra para os jovens – FlipZona.

Eu me redescobri e fiquei zonza com tanta coisa acontecendo simultaneamente. Queria conhecer cada um dos que não conhecia; saber mais dos que já conhecia e me enturmar com os que fazem (ou como eu) pretendem fazer algo mais seriamente com as palavras. Os anônimos, que têm seus livros publicados, mas que sabem que nunca subirão àquele palco. Deixei Ribeirão Preto com alguns contatos, com a programação paralela me entusiasmando tanto quando à oficial.

No primeiro dia, em uma das principais ruas de Paraty, identifiquei o Clube dos Autores. Parei, apanhei a programação e marquei o que mais me interessou. Um encontro promovido pela revista Imprensa, que teria entre os participantes o professor Sérgio Vilas-Boas, o primeiro a ministrar aulas para a nossa turma de Jornalismo Literário, era uma de minhas prioridades. Na quinta-feira à tarde, hora marcada, lá vou eu com a filha. Na sala da casa antiga, cadeiras espalhadas, um sofá de madeira bem alto que deixava as pessoas com os pés suspensos, poucas pessoas, lanche e finalmente chega, um pouco atrasado, o palestrante. A discussão começa. O assunto predominante é a poesia, o que ela representa, como as pessoas chegam até ela, até onde as redes sociais têm contribuído com a ampliação dos admiradores... Não consigo me perceber na discussão. Uma hora no local, tento me posicionar, apresento-me, ouço um jovem de no máximo 30 anos dizer que já compôs mais de 20 mil poesias e sinto-me uma incompetente. Pergunto pelo Sérgio que ninguém conhece.

Na pequena porta surge a Rebecca. Esbaforida, ar de cansada. Acabara de chegar de São Paulo e não queria perder nada. Se o Sérgio Vilas-Boas estava ali certamente deveria ser do nosso interesse. Percorre com o olhar buscando pelo professor. Não o encontra. Levanto para ir ao banheiro e ela quase salta atrás de mim: - Acho que estou no lugar errado e ela sem pestanejar: - Eu tenho certeza !

Mesmo assim resolvo não abandonar o ambiente. Eles foram tão atenciosos comigo: tiraram fotos, deram-me uma camisa, colocaram o Clube a minha disposição... ficaria... Fiquei. Perdi o encontro que tinha me programado há pelo menos 15 dias, mas aprendi um pouco mais sobre poesia e conheci pessoas interessantes. Valeu a patetice ! Não fui ao Clube dos Escritores, mas aproveitei muito bem o Clube dos Autores.

Amanhã tem mais FLIP ! Um pouco sobre os Artistas fora do palco.

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