Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós
Como o governador Simão Jatene poderá se apresentar aos cidadãos do Oeste e do Sul do Estado, derrotados no plebiscito do mês passado, em condições de superar a antipatia e o ódio que seu nome agora suscita nessas duas regiões do Pará? Como o paladino dos interesses de todos os paraenses. Como aquele que vai proporcionar aos separatistas o que eles pretendiam alcançar através da emancipação dos seus territórios.
É o que se depreende da campanha que o governo desencadeou contra o Consórcio Construtor Belo Monte, tendo os empresários e a imprensa de Belém como aliados nessa nova guerra santa. O estopim para a deflagração da beligerância foi a compra, pelo consórcio, de 116 caminhões Mercedes Benz, no valor de 48 milhões de reais, diretamente da fábrica, em São Paulo.
Pelo acordo firmado pelas partes dois meses antes, o consórcio devia compensar os benefícios recebidos do governo fazendo suas compras exclusivamente na praça do Estado. A Norte Energia admitiu seu erro, que teria sido causado por alguém desinformado sobre o entendimento ou pela própria Mercedes Benz (cujo revendedor é a Rodobens), mas negou que tivesse cometido uma traição ao Pará.
Sua nota não foi suficiente para conter os “novos cabanos”. Enquanto o governo condicionava a liberação da carga apreendida e que se destinava à construção da hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, em pleno andamento, ao recolhimento do ICMS devido, a Assembléia Legislativa divulgava uma nota de repúdio ao “ato desrespeitoso” do consórcio.
O desassombro dos guerreiros em defesa do comércio local e dos interesses estaduais contra mais uma espoliação colonial não devia se limitar a fazer sua a causa de uma empresa de revenda de caminhões Mercedes ou cobrar a compensação devida pela condição de exploração que o Pará sofre dos seus recursos naturais. Devia também forçar o Estado a baixar as alíquotas do ICMS, que são das maiores do Brasil, fixadas durante o longo consulado dos tucanos, agora de novo no poder.
A via adotada, a da ânsia em tributar, é solução enganosa para proporcionar o desenvolvimento e um biombo conveniente para que, findas as campanhas públicas, sejam feito acertos “em privado”, como dizem nossos irmãos lusitanos. Em época de réveillons, os estrondos e luzes do foguetório de protesto e de combate podem não passar de fogo fátuo. Só para deslumbrar a plateia e ofuscá-la, parecendo que os de sempre se tornaram (de repente, não mais do que de repente), seus salvadores, os anjos do novo mundo.
Um comentário:
Concordo em gênero, número e grau. Análise perfeita. Entretanto, vai ser necessário bem mais do que fogos de artifício para o Jatene conseguir recuperar ao menos um pouco da popularidade que perdeu por causa do apoio declarado aio não. Além do mais, Jatene está mal na foto não apenas por ter apoiado abertamente o não, mas porque seu governo é mediocre. Paulo Leandro Leal
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