sexta-feira, 25 de abril de 2008

Produção de cacau ganha força no Pará

O cacau, de origem amazônica e centro-americana, tenta florescer de forma mais vigorosa em um de seus berços. Plantadores e cadeia produtiva da amêndoa do Pará, atualmente o segundo maior Estado produtor do país, lançaram-se à meta de superar a Bahia e passar a liderar o segmento em dez anos. Com produtividade muito acima da média e área de cultivo em crescimento constante, o Pará crê que pode superar o volume produzido na Bahia ao fim desse período.
'O Estado tem áreas grandes para crescer. O cacau pode decuplicar sua área de plantio sem a necessidade de agredir a floresta', afirma Jay Wallace Mota, superintendente da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) no Pará.
O governo do Estado anunciou no fim do ano passado um programa de fomento ao cacau que incluirá a distribuição de sementes, pesquisa técnica e incentivo à produção de cacau orgânico, bem aceito no mercado externo e de preço final mais elevado. O setor busca potencializar vantagens competitivas e, com o crescimento, também atrair empresas. A ausência de uma indústria de grande porte para processar a amêndoa ainda é uma desvantagem competitiva.
O Pará, em contrapartida, supera a Bahia em outros fatores, segundo representantes do setor. Ainda que ocupe mais de 500 mil hectares, bem mais que os 67 mil hectares paraenses, o cacau da Bahia tem produtividade média de 285 quilos por hectare. No Pará, são, na média, 881 quilos por hectare, segundo a Ceplac. Com isso, argumenta Mota, é possível superar a produção baiana, mesmo com uma área menor.
Em algumas regiões do Estado, a produtividade supera as 2 toneladas por hectare. A média de 881 quilos por hectare fica bem próxima da de 908 quilos por hectare registrada na Indonésia, campeã mundial de produtividade, de acordo com os dados da Ceplac. As estatísticas diferem um pouco das apresentadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas também nestas o Pará tem vantagem. Segundo o IBGE, a produtividade paraense em 2006, o dado mais recente, foi de 636 quilos por hectare (36,5 mil toneladas em 57,5 mil hectares plantados). Na Bahia, foi de 275 quilos de média nos 596,3 mil hectares plantados, o que resultou em 148,7 mil toneladas produzidas.
De acordo com o IBGE, o Pará produz quatro vezes menos que a Bahia em uma área dez vezes menor. A distribuição física das lavouras também é encarada como um diferencial favorável para a meta paraense. Ao contrário do que ocorre na Bahia, onde o cacau é cultivado no eixo Ilhéus-Itabuna e nas cidades vizinhas do litoral sul do Estado, no Pará, são cinco os eixos de produção. Com a distância entre eles, eventuais ataques de pragas e problemas climáticos não assolam toda a produção de uma só vez, argumenta o superintendente da Ceplac.
'O perfil das propriedades também é outro. Em vez de grandes fazendas, no Pará, a maior parte das plantações fica em propriedades que têm entre três e cinco hectares de área, como na Costa do Marfim', afirma Wallace. O país africano é o maior produtor e exportador mundial de cacau. O projeto criado pelo governo do Estado e a Ceplac local prevê acréscimo de 10 mil a 12 mil hectares de área dedicada ao cacau no Pará. Em dois anos, deverão ser distribuídas entre 20 milhões e 25 milhões de sementes. Terras de assentamentos serão incluídas no programa.
'O cacau está crescendo, mas toda vez que recebe algum apoio, vai tudo para a Bahia. Esperamos que esta seja a nossa vez', diz o gaúcho Élido Trevisan, que há mais de 30 anos dedica-se ao cacau em Medicilândia, principal cidade produtora da amêndoa no Pará. Nos anos 80, antes do início dos ataques da vassoura-de-bruxa, a produtividade chegava a atingir 3 toneladas por hectare. Atualmente, afirma o produtor, em anos bons, ela chega a 1,5 tonelada. Ainda que inferior aos picos do passado, é muito maior que a média baiana.
A praga da vassoura-de-bruxa, que começou a se alastrar na Bahia em 1989 e abateu a produção brasileira, chegou antes ao Pará. Também nesse quesito os técnicos enxergam vantagem comparativa. O Pará tem uma estação seca bem definida, que se estende de julho a novembro, ao contrário do que ocorre no litoral sul baiano, onde as chuvas são bem distribuídas ao longo do ano. Como o fungo causador da vassoura alastra-se com mais veemência em clima úmido, a estação seca ajuda no seu controle e exige menos podas das plantas doentes. Muito mais do que competir com a Bahia, a cadeia cacaueira paraense pretende aproveitar a recuperação dos preços internacionais e a demanda crescente, argumenta a Ceplac.
Segundo a Organização Internacional do Cacau (ICCO, na sigla em inglês), a demanda pelo produto deve crescer 3% ao ano até 2011 e a oferta, entre 1,8% e 1,9%. Ainda que seja originário das bacias dos rios Orenoco, na Venezuela, e Amazonas, o cacau do Norte do Brasil sempre foi secundário na produção brasileira. 'Tem mais gente entrando no setor, mas o beneficiamento ainda é muito atrasado. Precisamos melhorar a qualidade do produto', afirma o produtor Élido Trevisan.
(Fonte: Valor Econômico)

Nenhum comentário: