O Fórum Social Mundial foi uma criação positiva. Em sua nona versão, ele demonstrou a necessidade de quebrar o monopólio de fazer e escrever a história, exercido pelos ricos e poderosos. Mas desnuda também a dificuldade – quase impossibilidade – de criar uma contrafação radical ao meeting que os oito grandes realizam em Davos. Em boa medida, o FSM é a outra face da moeda dos estereótipos e manipulações do G-8. Falta-lhe a capacidade de confrontar-se com a realidade e ser-lhe fiel, purgando-a das manobras de efeito e da manipulação.
No balanço final do encontro de Belém, os organizadores do fórum recorreram aos números para conferir-lhe grandeza fictícia e qualidade exagerada. Proclamaram que 133 mil pessoas de 142 países se inscreveram para o evento. Sem pôr o número em questão, qual foi a participação? Por que sobraram tantas camisetas confeccionadas para os inscritos, muitas sem sequer sair das caixas, se elas foram um regalo disputado?
Dos 133 mil participantes, menos de seis mil (ou nem 5%) eram de fora do Brasil, dois terços deles nossos vizinhos sul-americanos. As estatísticas discriminaram as procedências estrangeiras, mas não as do próprio Brasil nem as da Amazônia ou do Pará. Falha inadvertida ou proposital? A informação talvez nos levasse a concluir que muitos dos especialistas ou candidatos a salvadores da Amazônia prescindem dos nativos para desempenhar sua missão. Vieram até aqui mais para nos ditar regras do que tentar ouvir a voz local.
O que podiam dizer não é assim tão relevante quanto pensam. Tanto que nada de novo ou de forte foi dito. Cessada a agitação de feira, a Amazônia prossegue sua trajetória, como se o fórum não tivesse existido. Ou continuasse a existir para a confraria que o patrocinou, o cingiu aos escolhidos para receber o tratamento preferencial e o adornou com as fantasias da propaganda da esquerda oficial.
Se Davos é propriedade privada dos ricos, o FSM é uma marca dos que estabeleceram sua marca na oposição institucional aos poderosos.
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