Lúcio Flávio Pinto
Nem parece que a TV Liberal e o jornal O Liberal pertencem ao mesmo grupo empresarial. A mesma linha editorial é que eles não seguem. O jornal dos Maiorana fez o possível e o não recomendável para reduzir o significado da cassação do prefeito Duciomar Costa: colocou a primeira notícia no pé da primeira página e a partir daí só abriu o noticiário com a posição do alcaide. Chegou ao cúmulo de denunciar na primeira página, como delito penal, o que foi um ato de improvisação dos membros da mesa da Câmara Municipal: abrir a sala para dar posse (embora indevida) ao novo prefeito, José Priante, do PMDB, aquele que foi sem ter sido.
Já a TV Liberal vem fazendo uma campanha de matérias sobre aquilo que se transformou em caso de calamidade pública: o serviço de saúde em Belém. As culpas abrangem os três segmentos do governo (federal, estadual e municipal), mas a ênfase tem sido nos postos municipais. Todos os dias há situações escabrosas para relatar sobre o descalabro no setor – e a TV Liberal está presente. Como se fez bem presente à cobertura do cassa-não-cassa de Duciomar. Um contraste brutal com o que sai (e, em especial, com o que não sai) nas páginas dos jornais impressos da família Maiorana, que começou a cobertura não anunciando o fato (a sentença do juiz), mas a defesa do prefeito.
Como explicar o paradoxo? Simples: os Maiorana continuam a mandar na administração e nas finanças da sua emissora de televisão, mas quem dita as regras sobre a cobertura jornalística é Álvaro Borges, o jornalista deslocado de Minas Gerais para atuar como interventor na redação da TV Liberal. Até um tempo atrás essa intervenção branca se limitava às pautas da rede. Estendeu-se depois à cobertura local. E agora atinge também os investimentos necessários para que os jornalistas tenham boas condições de trabalho: câmeras, carros, equipamentos e agora até um helicóptero.
De moto próprio, os Maiorana se recusavam a cumprir integralmente o esquema de aplicações cobrado pela Rede Globo. Quando o atendiam, era parcialmente. A emissora esteve próxima do sucateamento algum tempo atrás. Mas a direção da Globo endureceu e, baseada no faturamento que proporciona aos afiliados, por conta de sua esmagadora liderança no mercado nacional, e para conter a sangria de receita, destinada a outras mídias, exige qualidade, que se tornara matéria escassa no balcão de negócios da Liberal.
Agora as ordens de cima têm que ser cumpridas. Tanto para dar credibilidade ao noticiário da emissora, fazendo-o aproximar-se da realidade e assim se libertar da pasteurização a que fora submetido pelo excesso de matérias recomendadas (pelo departamento comercial ou pelo totem do chefe), como também para melhorar o aprumo formal das reportagens, que falhavam por causa do uso de equipamentos defasados ou saturados.
A completa atualização da TV Liberal ao padrão Globo desafiava a liquidez da empresa, sem recursos próprios para bancar todas as despesas necessárias. Mas o Jardim Botânico não pretende condescender: a afiliada que arranje os recursos para responder aos desafios. A alternativa não é romper o contrato de afiliação, o que nunca esteve em pauta, desde que Romulo Maiorana tirou a representação de Roberto Marinho da TV Guajará, da família Lopo de Castro, na metade da década de 70 do século passado. O risco pode ser o aparecimento de um grupo – com disposição e capital – que se apresente para assumir o negócio, com uma oferta vantajosa para todos.
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