| A floresta recua e, às margens do Rio Tapajós, surgem as praias de Alter do Chão, uma surpresa no coração do Pará Leonardo Coutinho Fotos Luiz Braga Caribe na Amazônia: Alter do Chão tem areias branquinhas e as águas azuis do Tapajós, o rio-mar que de uma margem não se vê a outra | Pode ser alguma coisa no ar, na linha do horizonte, no calor que gruda na pele, na paisagem. Quem desembarca pela primeira vez em Belém do Pará faz uma série de constatações imediatas: está no Equador, o mar a sua frente é um rio, a imensidão verde da floresta chega até ali pertinho, suas referências do que é o Brasil precisam de várias adaptações. E Belém pode ser a base para uma experiência amazônica diferente, uma espécie de iniciação à floresta, com as praias de rio a seu redor, a exótica Ilha de Marajó quase na outra margem e, mais adiante, a melhor incursão de todas, Alter do Chão. Para quem traz na mente as imagens convencionais da Amazônia, chegar a essa vila de pescadores, a 35 quilômetros de Santarém, é um espanto. Primeira surpresa, as águas do Tapajós, o mais bonito dos rios da Região Norte. Mornas e cristalinas, são de um azul intenso, que lembra o mar. Essa Amazônia de ares caribenhos se completa com mais de 30 quilômetros de praias de areia macia, branquinha. De uma margem do rio não se vê a outra – um efeito tão impressionante que os primeiros navegadores europeus, há mais de 400 anos, provavam de suas águas para ter certeza de que não era salgada. Mercado de carnes, Belém: estruturas vindas da Europa no auge da "era da borracha" são restauradas em projeto que pretende devolver à cidade o antigo esplendor | A melhor época para visitar Alter do Chão é no verão amazônico, de julho a dezembro, quando a ausência de chuvas amplia a faixa de praia. É nessa época também que a modesta indústria turística local oferece mais opções de lazer: aluguel de caiaques, pranchas de windsurfe e de equipamentos de mergulho, todos artigos raros na baixa temporada. Na primeira quinzena de setembro, a vila lota com cerca de 100.000 pessoas que vão assistir ao sairé, uma festa regional que mistura elementos religiosos e lendas locais. Seguindo o modelo de outra festa amazônica, a da Ilha de Parintins, a população e os turistas lotam o sairódromo para acompanhar a luta entre o boto-cor-de-rosa e o cinza, o tucuxi. Saindo de Alter, os melhores passeios são de lancha, até praias desertas, como Aramanaí, Pindobal e Muretá – esta, enfeitada por um lago de águas verdes no meio da floresta, habitado por piranhas e jacarés. De volta à vila, no fim da tarde, a natureza oferece um programa obrigatório: a quinze minutos de lancha, na entrada da enseada que banha Alter do Chão, dezenas de botos, nadando em pares, sobem e voltam a mergulhar, alimentando-se dos peixes que usam o local para se reproduzir. Para chegar a Alter, viaja-se uma hora de avião de Belém a Santarém (há vôos diários) e mais meia hora (35 quilômetros) de táxi ou carro alugado. Neste último caso, deve-se encher bem o tanque em Santarém, tendo em mente que na vila não existe posto de gasolina – nem táxi, nem agência bancária, nem caixa automático. A opção mais ousada é ir de barco. São 150 reais por pessoa em camarote duplo, com banheiro, ar-condicionado e o direito de contar, depois, aventurescas histórias de navegação no rio-mar. A duração da viagem também é amazônica: sessenta horas. Ver-o-Peso: com suas torres e armações de ferro, o mercado tricentenário vende de tudo um pouco em barracas coloridas e é o cartão-postal de Belém | O sabor indígena: ingredientes amazônicos dão o tom exótico da culinária paraense, em que se destacam o pato no tucupi, o tacacá e a caldeirada (foto) de peixe | Na ida ou na volta, a revitalizada Belém é parada obrigatória. Metrópole da Amazônia no auge da extração da borracha, apelidada de "Francesinha do Norte" pela influência da França na arquitetura e no modo de vida dos novos-ricos do século XIX, a cidade está sendo reconstruída a partir do que restou de quase 100 anos de abandono. Em abril foi reinaugurado o Theatro da Paz, que teve suas pinturas e peças de madeira no estilo belle époque recuperadas. Na onda de reformas, até o tricentenário Mercado do Ver-o-Peso ganhou nova pintura, barracas padronizadas e um espaço mais arejado e limpo. São, ambos, parte da série de obras iniciadas três anos atrás, com a instalação da Estação das Docas, um complexo de lojas, restaurantes e teatro na zona portuária da cidade, onde galpões de aço trazido da Inglaterra há mais de um século receberam paredes de vidro, ar-condicionado e iluminação especial. Lá é um bom lugar para provar a culinária paraense, a mais autenticamente indígena do país, carregada no tucupi, um molho de cor amarelada feito de manipueira, o suco extraído da mandioca. Pratos obrigatórios: pato no tucupi e tacacá, este uma mistura servida em cuia do mesmo molho com camarão, goma de mandioca e temperos. Quem prova não esquece. | | | (Para acessar o site dos hotéis, clique nos estabelecimentos sublinhados) Alter do Chão Hospedagem | Uma opção sossegada é o Belo Alter (fone: 527-1247, 91 reais), novinho em folha e afastado do centro da cidade. Os apartamentos têm móveis simples, mas comodidades raras por lá, como ar-condicionado e TV. O acesso é por estrada de terra (menos de 1 quilômetro até a vila), sem iluminação. A Pousada Alter do Chão (fone: 527-1215, 25 reais) é para quem enfrenta qualquer parada – os quartos, com paredes de tábua, são mobiliados com nada além de uma cama e um ventilador. | DDD Belém Hospedagem | O Hilton Belém (fone: 0800-780888, diária de 380 reais) segue o padrão hotelão de rede, fica em frente ao Theatro da Paz e é considerado o melhor hotel da cidade. Oferece dois restaurantes e serviços compatíveis com o preço que cobra. O Beira Rio (fone: 249-7111, 98 reais), às margens do Rio Guamá, é ponto de partida para passeios de barco pelo rio. Já o Manacá (fone: 223-3335, 75 reais), instalado em uma casa numa região central, é simples, sem luxos, mas simpático – mais parece uma pousada e é tão escondido que até os taxistas têm dificuldade de localizá-lo. | Restaurantes | A restaurada Estação das Docas é o superendereço gastronômico de Belém, com quase uma dezena de restaurantes, que servem quase tudo, entre paredes de vidro com vista para a bela Baía de Guajará. As opções vão da comida regional à japonesa. O mais conhecido local para provar a saborosa e exótica comida paraense é o Lá em Casa (fone: 223-1212). Seu carro-chefe é o pato no tucupi. | DDD | | |
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