domingo, 6 de dezembro de 2009

O Pará atrasado

Lúcio Flávio Pinto

O Pará, Estado colonial por causa da sua função extrativa, não consegue transformar seu crescimento em progresso. É o que mostra o PIB de 2007, revelado na semana passada pelo Idesp. O modelo continua a ser o do rabo de cavalo: crescimento para baixo.

O Pará anda em piloto automático. Não importa quem esteja no Palácio dos Despachos, a sede do executivo estadual, na rodovia Augusto Montenegro. O ocupante do mais alto posto da administração pública no Estado só não é figura decorativa porque alguns desses dirigentes andaram tentando tomar pé – ou mesmo assumir o comando – no imenso território posto sob sua jurisdição. Seus esforços, porém, esgotados os seus efeitos localizados e temporários, se revelaram inúteis.

O Pará transcende a sua própria capacidade de gestão. É produto de matrizes e variáveis que só circunstancialmente se cruzam com os mecanismos decisórios locais. O Pará é o efeito de vontades externas. Na origem das decisões se encontra também a sua destinação. Como se o jogo para valer fosse de bumerangues. Por serem lançados a partir de fora, lá fora é que está o seu ponto de chegada. O Pará é uma circunstância de si mesmo, numa típica caracterização colonial.

O circuito mais importante dessas engrenagens é controlado pela antiga Companhia Vale do Rio Doce. O valor de mercado da empresa é duas vezes e meia maior do que o PIB (Produto Interno Bruto) do Pará. Seu lucro líquido no ano passado excede em mais de 10 vezes a capacidade de investimento do governo estadual. O Pará é um dos 12 Estados da federação nos quais a empresa atua, mas é o segundo de onde ela mais extrai receita e o primeiro em saldo líquido de divisas. Se o Pará tem perfil colonial, a Vale é quem mais o modela.

A ferocidade exportadora da empresa contribui decisivamente para a consolidação de um paradoxo: quanto mais cresce, mais o Estado fica pobre. É o que indicam os principais indicadores do PIB de 2007, revelados na semana passada pelo Idesp (Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará), a partir de dados só agora apurados porque esperava que o IBGE concluísse a apuração do PIB nacional.

Em 2007 o Brasil cresceu a uma taxa quase três vezes superior (6,09%) à do Pará (2,24%), que, por sua vez, foi quase 50% inferior ao incremento da Amazônia (3,80%). O Estado ainda tem o 13º PIB do país (e o maior da região amazônica), mas nem pelo critério de grandeza demográfica sua dimensão se alinha, já que possui a 9ª maior população brasileira (está quatro degraus abaixo do nivelamento econômico pelo critério populacional). O crescimento da riqueza física tem sido proporcionalmente maior nos últimos cinco anos, com taxa média anual nesse período de 4,15% (bem acima da média nacional, de 2,71%), enquanto o incremento médio da população foi de 1,54% ao ano.

Ainda assim, o Pará cai para o 22º lugar no ranking nacional quando a referência é o PIB per capita (a riqueza dividida pela população). O PIB per capita paraense não chega nem a metade do valor brasileiro. É o menor da Amazônia Clássica. Já na Amazônia Legal só ganha do Maranhão dos Sarney, que só está à frente do Piauí, o último da federação. Amazonas e Mato Grosso, líderes regionais, têm o dobro do PIB per capita do Pará.
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Leia o artigo completo aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

Júlio Nogueira

Será que da floresta amazônica não dá pra se extrair carvão vegetal para o processo de redução do minério de ferro das usinas siderurgidas de Marabá?
O Brasil é campeão no mundo na utilização de carvão vegetal no processo de redução em siderurgia. O estado de Minas Gerais planta florestas de eucalipto para essa finalidade. Seria possível aproveitar parte da lenha que é queimada após os desmatamentos e que provoca tanto protesto, para gerar carvão vegetal e renda para os os cabolhos do Pará? Poluindo menos o planeta. Afinal é uma energia renovável.

parabéns Sr. Lúcio Flávio pelo artigo.

julio_nog17@yahoo.com.br