terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Obras nos mercados não resolvem velhos problemas

Cilícia ferreira
Repórter


Os mercados Modelo e Municipal passam por reforma há cerca de 20 meses. A obra era para ser concluída em 120 dias, 4 meses, como consta na placa de divulgação da obra afixada no local. O atraso vem gerando discussões entre os vendedores ambulantes, principais interessados, que foram remanejados para a Praça Rodrigues dos Santos e arredores. De um lado a Secretaria Municipal de Abastecimento (SEMAB) atrasa a entrega, com o argumento de que faltam alguns ajustes e de outro os vendedores que não vêem à hora de retornar para o mercado.

Cláudio Neves, presidente do Sindicato do Comércio dos Vendedores Ambulantes de Santarém, diz que a reclamação dos ambulantes é por conta do excesso de dias atrasados da obra, além de algumas situações como a instalação dos boxes para cada tipo de atividade. Ele diz que, principalmente, os peixeiros estão sentindo-se prejudicados com o tamanho e a fragilidade da bancada destinada para os peixes.

O presidente do sindicato diz que em relação às condições estéticas e de higienização do mercado as instalações estão boas, mas em relação a adequar essas condições à realidade do trabalho dos vendedores foi que a SEMAB falhou. Ele informou que em reunião com os peixeiros, na última terça-feira (15) a SEMAB expôs um contrato de locação para ser assinado pelos vendedores e deu 'explicações' sobre o atraso e estrutura do prédio e dos boxes.

A entrega da obra do Mercado Municipal está atrasada por conta da instalação de energia dos boxes. Os pontos de energia totalizam 273, que precisam ser instalados individualmente em cada boxe. De acordo com o dono da construtora responsável em executar o projeto, a instalação elétrica está pronta, o que falta é a instalação dos 'relógios' e ligação da energia, ambas pela Rede Celpa.

Célia Henn, do setor de projetos e licitação da SEMAB, diz que 95% da obra estão prontos, mas não tem previsão para a entrega. Ela diz que faltam alguns ajustes para a inauguração do novo mercado, como, a ligação da energia.

Com medo de represália, alguns não quiseram se identificar. João (fictício) é ambulante de eletrônicos há muitos anos e disse que está ansioso para voltar a trabalhar no interior do mercado. Ele conta que trabalhar do lado de fora compromete as vendas, porque "muitas vezes os clientes não querem fazer compras no sol". O ambulante também diz que a permanência deles nas calçadas e na Praça Rodrigues dos Santos, prejudica o tráfego de veículos e de pedestres. "Os próprios pedestres reclamam do aperto e alguns deles compram com a gente", explica o ambulante.

Já seu Arivaldo Oliveira, vendedor de peixe há 30 anos, disse que não tem medo de represália e aceitou falar sobre o atraso das obras. Ele diz que as obras do mercado foram previstas para 120 dias e já faz 1 ano e 8 meses que os ambulantes estão em um lugar improvisado. Segundo seu Arivaldo, as bancas não apresentam mais condições seguras de uso. Além dessa reclamação, ele conta que os boxes que serão entregues aos peixeiros não estão de acordo com a realidade deles. "O balcão de inox é pequeno e muito "fraco", não vai agüentar a carga de peixe que a gente coloca na banca e a bancada da pia foi feita com uma pedra muito fina e não tem nenhum apoio embaixo dela. Ela vai arriar com o peso dos peixes", comenta seu Arivaldo.

Atraso compromete vendas de ambulantes, açougueiros e peixeiros


Salustiano Figueira Castro, membro da diretoria do sindicato dos ambulantes, diz que o atraso das obras já está comprometendo as vendas dos ambulantes, uma vez que o local para onde foram remanejados não as bancas foram construídas para suportarem 4 meses apenas e, já está sendo usado a 1 ano e 8 meses. "Nós temos que receber essa obra, devido o inverno estar às portas. Não podemos passar mais um inverno nesse local".

O presidente dos ambulantes diz que, mesmo faltando alguns ajustes, eles querem mudar para o mercado o mais rápido possível. As adaptações que serão necessárias fazer, segundo Salustiano, serão divididas entre os vendedores e concluíram para que o mercado funcione ainda este ano. Ele diz que a SEMAB não deu uma precisão na data de entrega do mercado.

Os vendedores de carne também estão inconformados com a demora, pois segundo eles, o local provisório onde estão vendendo sua mercadoria, já está em péssimas condições. "Não dá para passar mais um inverno aqui", diz seu Rui Barbosa, açougueiro.

De acordo com o açougueiro, no inverno passado a enxurrada passava pelo meio do barracão improvisado, alagando todos os boxes e gerando riscos de acidentes graves, como choques elétricos, com o contato da água e os aparelhos elétricos.

Seu Rui Barbosa diz que os vendedores querem respostas diretamente da prefeita. "Queremos falar com a prefeita, pois todos os representantes da prefeitura que vêm ao mercado falam a mesma coisa sempre e não dão respostas concretas", diz o açougueiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Editor - Nada adianta esse tipo de reforma se o processo lá atrás está desencontrado.
O que Santarém necessita é um Entreposto de Compras. Espaçoso, limpo, arejado, centrifugado, para que ele seja o responsável pelas compras, armazenamento e distribuição dos produtos oriundos de uma agricultura familiar.
Desde horti-fruti até carnes bovinas peixes e suinas, inclusive flores.
Esse seria o papel desse entreposto. O peixe por exemplo teria um entreposto exclusivo para peixes separados por tipos, tamanhos, espécies.
Funcionamento 24 horas com preços diários de mercado pautados por um critério pré-estabelecido entre a oferta e procura.
Os produtores, pescadores já saberiam os preços praticados pelo entreposto e teriam ano todo um local que iria adquirir seus produtos a qualquer tempo e época. Os preços iriam flutuar ora para cima, ora para baixo de acôrdo com os fatores tipicos de comércio.
Todos os demais, mercadões, mercadinhos, hiper supermercados, pequenas vendas de bairros, enfim todos os segmentos de vendas iriam adquirir seus produtos do entreposto. Não haveria o chamado intermediário. Aquele que faz de uma Brasilia amarela o seu escritorio e explora a dificuldade do produtor-vendedor a repassar seu produto haja visto já existir um coluio entre o comprador e o intermediário, e quando esse produtor chega com a banana, a melancia, a farinha de mandioca no mercadão se vê, muitas vezes, na necessidade de ir para Orla, para Alter do Chão, nas esquinas a vender seus produtos sob o risco de ter que voltar para casa sem dinheiro e com toda a mercadoria.
Mercadão é para tão sómente vender produtos e nao para receber/comprar/armazenar e a posterior repassar.
Já imaginaram São Paulo sem o Ceagesp e com toda produção circulando por mercadões e supermercados da cidade para repasse. Não somos uma São Paulo, mas os problemas se equiparam e sem uma central de compras, sem um entreposto de compras, sem uma mini-ceagesp, os problemas irão continuar com mercadão novo/reformado/pintado etc.

Antenor Pereira Giovannini