terça-feira, 20 de abril de 2010

Ana Júlia quebra o protocolo e vai ao encontro de Jader, para resgatar aliança com o PMDB

Ana Célia Pinheiro

É possível que a governadora Ana Júlia Carepa tenha dado um passo decisivo para a repactuação da aliança entre o PT e o PMDB: na manhã de ontem, em companhia do deputado federal Paulo Rocha, ela atravessou os cem metros que separam a casa dela da casa do deputado Jader Barbalho, no condomínio Cristal Ville, e teve um longo bate-papo com o morubixaba peemedebista.

A notícia, sob o título “Adivinhe quem veio para o café?”, foi publicada na noite de ontem pelo blog do deputado Parsifal Pontes, do PMDB, e também no Espaço Aberto.

Diz o deputado na postagem:

“Hoje pela manhã o deputado federal Jader Barbalho gravava uma participação radiofônica. O seu assessor, Antônio José, entrou-lhe no gabinete e disparou:

- A governadora Ana Julia e o deputado federal Paulo Rocha estão aqui...

Jader Barbalho, entre incrédulo e surpreso:

- Aqui aonde, rapaz?!

Antônio José, em tom mais convincente, ratificou:

- Dr. Jader, eles estão aqui, na sua casa: na sala.

A governadora mora a menos de 100 metros do deputado Jader e, talvez convencida pelo deputado federal Paulo Rocha, resolveu afastar os interlocutores de fora das fronteiras do Pará.

Ao atravessar a pequena distancia física que separa a casa dela, da residência dele, Ana Júlia fez um gesto para encurtar a enorme distancia política que os dista.

Talvez, tenha sido este o gesto mais aprumado que a governadora tenha tomado no seu relacionamento com o PMDB: o outro seria mandar a criançada que a cerca para o abecedário, inclusive o doublé de articulista dominical.

A surpresa de Jader Barbalho ao se ver, não mais que de repente, com a governadora do Pará em sua sala, sem nada ter sido marcado, sensibilizou-o: refeito da contingência, recebeu-a com gentileza, como lhe é peculiar.

A conversa foi longa. Jader, comme il faut, mais ouviu do que falou. O deputado Paulo Rocha fez algumas observações.

Embora não muita coisa nova tenha sido tratada, permita-me o leitor, por questões estratégicas, e até protocolares, não revelar o teor da entrevista.

Mas, prometo que um dia brindar-lhes-ei com a completa crônica do episodio, que passará a ser um dos mais pitorescos da historia política do Pará”.

O link para a postagem está aqui, e vale à pena dar um pulo lá, até pelos muitos comentários que recebeu: http://pjpontes.blogspot.com/2010/04/adivinhe-quem-veio-para-o-cafe.html

Conversei, na noite de ontem, com Parsifal. Ele disse que a conversa de Ana e Jader durou de 40 minutos a uma hora, mas garantiu que nada de novo foi decidido, nem sequer a data do próximo encontro entre os dois.


Ana teria renovado ofertas já feitas a Jader – uma vaga ao Senado (a outra é de Paulo Rocha), até pelo fato de o cacique peemedebista ter dito ao presidente do PT, José Eduardo Dutra, na manhã do último sábado, em Belém, que gostaria, de fato, de se candidatar a senador.

Ana também teria oferecido ao PMDB participação no Governo e na campanha, mas, sem entrar em detalhes.

Além disso, não teria tocado na Vice, embora tenha oferecido essa vaga publicamente ao PMDB, há cerca de dois meses.

Ana teria chegado a pé na casa de Jader e demonstrado, no início, certo nervosismo. Até porque, segundo me disse no início da noite uma fonte peemedebista, Jader já teria decidido não mais atender os telefonemas da governadora.

“Ela devia saber que o Jader estava em casa, porque os assessores mais próximos dele estavam lá. Aí, ela nem se preocupou em telefonar: foi lá. Entrou e se colocou na sala. E foi algo tão surpreendente que o Jader, no início, não acreditou: achou que era brincadeira do Antonio José”, contou Parsifal.

De tão supreso, Jader teria até comentado a assessores próximos: “No tempo de vida que tenho e acostumado a qualquer situação, fiquei uns 60 segundos sem saber o que ela dizia, tentando me recompor e pensando no que ia fazer”.

Parsifal afirma que também ficou surpreso com o fato: “Qualquer um ficaria. A coisa que ele (Jader) menos esperaria ela chegar na sala da casa dele e encontrar a Ana Júlia, sem que nada tivesse sido combinado”.

Ele jura, no entanto, que nem essa atitude da governadora conseguiu apaziguar os ânimos entre o PT e o PMDB – que andam pra lá de exasperados.

Mas, admite: “Ela quebrou a incomunicabilidade. Ela queria restabelecer o diálogo e quebrou aquela coisa de eles não se falarem”.

Perguntei a Parsifal o que ele achou, afinal, da ida de Ana à casa de Jader.

A resposta dele: “Achei uma atitude corajosa. Mas, é claro, isso também pode ser analisado como um gesto de desespero e uma atitude de quem quer realmente fazer essa coalização”.

O deputado lembrou que, ao ir ao encontro de Jader dessa maneira, “ela (a governadora) abriu mão do próprio rito do cargo. Foi uma coisa extrema, que deixa o Jader numa situação muito complicada, do ponto de visto político e pessoal”.

E analisa: “Ela resolveu agir. Se ela se colocasse a consultar os conselheiros dela, não tomaria essa atitude”.

Para ele, o gesto de Ana Júlia “pode ser o início da busca de uma autoridade da qual ela abriu mão, já que começou a ficar à mercê de interlocutores, o que demonstra fraqueza. Ela pode ter resolvido tomar as rédeas novamente. E como ela é a governadora, você acaba tendo de considerar as colocações dela, já que o resto – Puty e outros interlocutores - já não levamos a sério, até porque achamos que eles contribuíram para a deterioração do mandato dela, não apenas em relação a nós, mas, à Assembléia Legislativa como um todo”.

Perguntei a Parsifal se ele acredita que isso, afinal, abriu a porta para a renovação da aliança entre petistas e peemedebistas.

A resposta dele: “Não digo que isso vá levar à repactuação da aliança, mas, se tiver que levar, é por aí. O caminho seria esse, a governadora tomando as rédeas de seu governo. Se ela resolver ser governadora, fazer a articulação, é por aí o caminho para a repactuação com o PMDB”.

O deputado salientou que o PMDB já não aceita os interlocutores do governo e que as conversas mantidas com o PT, em Brasília, têm versado muito mais sobre a coalizão nacional.

E observou: “Agora, no momento em que ela (a governadora) arreda essa turma e se coloca como interlocutora, a conversa muda de figura. É uma demonstração de que ela quer tomar as rédeas do governo dela. E o problema sempre foi esse: ela entregou as rédeas do governo a esse pessoal, que não sabe fazer articulação política”.

Por “esse pessoal” leia-se assessores próximos da governadora, como é o caso de Cláudio Puty, Carlos Botelho, Maurílio e Marcílio Monteiro, todos integrantes da Democracia Socialista (DS), a corrente política de Ana Júlia; e todos, também, integrantes do chamado “núcleo duro” do Governo.

Perguntei ainda ao deputado se esse encontro com Jader, da forma como aconteceu, pode ter contribuído para a aprovação, pela Assembléia Legislativa, do empréstimo de R$ 366 milhões que o Governo Estadual pretende contrair junto ao BNDES, para repor as perdas decorrentes da crise financeira internacional, no ano passado (o empréstimo, aliás, tem gerado uma verdadeira queda de braço entre o Governo e os deputados estaduais).

Mas Parsifal garantiu que Ana Júlia só mencionou o empréstimo, sem entrar em detalhes.

E acrescentou: “Não é só tratar com o PMDB esse assunto. Isso tem de ser rearticulado na Assembléia. O fato de o PMDB apoiar pode facilitar as coisas, mas os partidos não ficarão a reboque de nós. Isso precisa de uma rearticulação total. E só ela (Ana Júlia) salva isso. Essa coisa de ficar querendo fazer pressão em cima dos deputados não resolve. A Assembléia Legislativa não é uma fábrica, um sindicato. É fazer o que o Lula fez, quando teve problemas no Legislativo: chamou para ele. Nem que o PMDB caminhe com ela (a governadora), tem outra questão a resolver, que é a rearticulação da base do governo”.

Na sua opinião, o que há de novo, de fato, é que Ana Júlia “tomou uma atitude. É como se ela tivesse parado de brincar e dissesse: a política aqui sou eu. Se foi assim realmente que ela pensou, o caminho é esse”.

Mas, embora cordial, essa não foi a melhor conversa entre Ana e Jader. Diz Parsifal:“Ele (Jader) nunca tratou a governadora de maneira indiferente, nem mesmo nos momentos piores. Mas já houve melhores (conversas), quando ainda estávamos em lua-de-mel, antes de ela tomar posse”.

Reunião

No começo da noite de ontem, já se podia notar certo otimismo em liderança petista ouvida pelo blog.

Apesar dos sucessivos atritos entre petistas e peemedebistas, que vêm se acirrando desde fevereiro, a informação era de que as conversas com Jader “estão avançando bem”.

“Vai ser surpresa. Ele (Jader) deve fechar com o PT”, afiançou a fonte.

Disse ainda não haver data para o fechamento da aliança, mas que isso “deve ser logo, logo”.

No meio da próxima semana, aliás, a previsão é de um novo encontro, em Brasília, entre Jader e a direção do PT.

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