segunda-feira, 30 de maio de 2011

Visceras expostas na imprensa do Pará



A guerra entre as duas famílias que controlam as comunicações e boa parte do poder no Pará chegou a um nível violento e sujo. O que impressiona é elas terem a mesma origem, no baratismo, o grupo que por mais tempo dominou a vida pública no Estado. Ao expor suas chagas, talvez eles consigam pôr um final nessa história.


Lúcio Flávio Pinto:
Os leitores de O Liberal do dia 19 devem ter sido surpreendidos – e chocados – por um artigo ocupando boa parte da primeira página do jornal, assinado pelo principal executivo da empresa, Romulo Maiorana Júnior. Era o texto mais violento que O Liberal já publicou, superando os da campanha eleitoral de 1990 – e com uma diferença substancial: estes reproduziam declarações de terceiros, enquanto o de agora era de responsabilidade de Romulo Jr., que nunca se notabilizou por esse tipo de atitude.

Nos dois casos de virulência descontrolada de linguagem, o alvo era o mesmo: Jader Barbalho, o inimigo público número um dos Maioranas – e, desde alguns anos atrás, seu maior concorrente no poderoso negócio de ambos, as comunicações. No artigo da semana passada (sob o título “Um safado e sua safadeza”), o ex-governador foi mimoseado com expressões como ficha-suja, canalha, sem-vergonha, safado, chantagista, corrupto e ladrão. Ao final de 12 parágrafos extremamente agressivos, Romulo Jr. revela o seu propósito: “Temos que acabar com esse câncer”.

A explosão de ira teve como detonador uma matéria da véspera do Diário do Pará. O jornal dos Barbalhos proclamou, em título de primeira página, que, ao depor na justiça federal como réu de crime contra o sistema financeiro nacional, valendo-se de fraude para obter quatro milhões de reais (em valor histórico) da Sudam para um projeto de fabricação de sucos de frutas regionais, o executivo atribuiu a culpa pelo ilícito ao irmão.

Ronaldo Maiorana depusera três meses antes no mesmo local, confessando o crime e alegando desconhecer que seu ato fosse ilegal, embora seja bacharel em direito. Ambos eram sócios no controle da Tropical Indústria Alimentícia, beneficiada com recursos dos incentivos fiscais para a instalação de uma fábrica no distrito industrial de Ananindeua.

Segundo a matéria, assinada pelo repórter Luiz Flávio, Romulo Jr. depôs perante o juiz da 4ª vara federal, Antonio de Almeida Campelo, “hesitante e consultando sempre o advogado das Organizações Romulo Maiorana”, Jorge Borba. Alegou “ignorância quanto às acusações de fraude contra a Sudam” e “acabou atirando toda a responsabilidade do caso no irmão e também réu no processo, Ronaldo Maiorana”.
Romulo Jr. teria dito que toda a gestão da empresa de sucos (hoje de refrigerante de sabor artificial, a Fly) “cabe ao irmão Ronaldo Maiorana e que, por essa razão, não poderia dar explicações mais detalhadas sobre o negócio”. Garantiu ainda que, “apesar de sócio na empresa, não interferia no negócio”. Tinha certeza, porém, que seu irmão “não havia feito nada de errado”. Afirmou que “jamais assinou qualquer cheque da Tropical”. Ao final, declarou que a empresa substituiu o dinheiro da Sudam por capital próprio e desde então cresceu com sua receita, sem precisar de colaboração oficial.

Na sua reação no dia seguinte, Romuo Jr. desautorizou a versão do Diário, “que teve a audácia de colocar meu nome em estórias que desrespeitam o próprio Judiciário Federal, inventando que culpei meu irmão Ronaldo por atos praticados numa indústria de sucos, até porque ele não fez nada de errado”. Pelo contrário: “A indústria detém a liderança do mercado, gera 250 empregos diretos e 150 indiretos, paga seus impostos em dia e tem a União devendo 70% do projeto”.

Em sua defesa, Maiorana Jr. invocou o testemunho do juiz Campelo, que o ouviu em depoimento, “para provar que em nenhum momento fiz qualquer tipo de acusação contra meu irmão Ronaldo, a quem defendo com a própria vida, como toda a minha família”.

Assumindo uma posição privilegiada, como se estivesse planando sobre todos os personagens, Romulo Jr. ressalta: “Tive o cuidado de alertar o nobre Juiz de que a presença na sala de uma repórter da Rede de Corrupção da Amazônia – RCA – [a versão que criou para a sigla da RBA – Rede Brasil Amazônia – da família Barbalho] iria fazer com que fossem publicadas mentiras a meu respeito e sobre minha família. Não deu outra coisa”.

Sustentou que esse noticiário resulta do desejo do grupo do ex-senador de “jogar a lama que produzem onde não existe lama”. E aí, de moto próprio, aborda pela primeira vez de público, em seu próprio jornal, o que se vinha recusando a fazer até então, um tema que ali estava proibido, vetado, excomungado:

“Dizem que meu pai era contrabandista. Ora, se ele foi contrabandista, foi para dar comida a sete pessoas, a sua família, e não para tirar a comida de sete milhões de paraenses, como faz esse ficha suja sem-vergonha, que hoje vive mendigando um mandato que levou fora do pleito, sem ter condições morais e legais de participar”.
Romulo Jr. cobra então respeito ao seu pai, o fundador do império de comunicações, a partir de 1966, quando assumiu o controle do jornal, e dá uma informação que também até então era desconhecida do público: “Respeite meu pai que, quando vivo, quase todo o dia o recebia e ao seu pai pedindo dinheiro ou pedindo para trocar cheques, que tenho guardados até hoje. Sem fundos, é claro”.

Para estabelecer o devido contraste, afirma que o enterro do seu pai “foi o maior que o Estado já viu”, superior até ao do maior líder político do Pará, Magalhães Barata. Mas prevê desfecho inglório para Jader Barbalho, a quem tanto ataca sem escrever uma vez sequer seu nome. Diz que ele “certamente terá a ‘solidão dos crápulas’”, que não terá “nem a presença da meia dúzia de ‘puxa-sacos’ de sua companhia pois terão vergonha da posteridade”.

Assumindo a postura de líder, fonte de referência no Estado, do alto da posição que imagina ocupar, o executivo informa ainda ter “dez processos contra esse crápula e seu jornal na Justiça do Pará, que não conseguem andar. Um deles, no Tribunal de Justiça do Estado, já recebeu a suspeição de cinco desembargadores. Vou acabar tendo que levá-lo para o Amapá ou o Maranhão para poder conseguir justiça”.
Atribui à sua corporação o mérito de impedir, através do constante combate à corrupção no Pará, que “esse crápula” aumentasse o seu poder, permitindo que Ana Júlia, Simão Jatene e Almir Gabriel se elegessem governadores. Mas considera triste “ver um governador do nível de Simão Jatene enchendo o seu governo com a canalha que esse safado indica”.

Acusa Jader Barbalho, sempre sem grafar-lhe o nome, de usar suas empresas para lavar dinheiro e assim estabelecer concorrência desleal com uma empresa como O Liberal, que não usa “a venda de jornal para lavar dinheiro”, vivendo apenas de “vender jornal e classificados, que é o nosso negócio”. Já a empresa de Barbalho “não tem conta-corrente em bancos, utiliza empresas de factoring de outros estados para manobrar suas operações com dinheiro vivo e paga funcionários com assessorias em cargos púbicos, ou através de permutas tiradas à força ou chantageando o empresariado. Não temos emissoras ancoradas em contratos de gaveta, como ele fez com a família Pereira, em Santarém, que vai perder a retransmissora da Rede Globo na região por causa das tramóias dele”.

Leia o artgo completo aqui.

5 comentários:

Anônimo disse...

Sou admirador da cultura e das produções jornalísticas do Lúcio, mas, convenhamos, já não há quem suporte mais esta briga, esta ciumada dele com o grupo Liberal. Dá um tempo, Lúcio, e proporciona aos teus leitores coisas inéditas. O Liberal, leia-se Rominho e Ronaldo, tão se lixando pra ti.

Marcelo Medeiros disse...

O Claudio Leal deve estar se "revirando" no túmulo diante dessa sistemática "guerra" do Lucio com os Maiorana, os quais - como diz o anônimo - tão se lixando para essa postura sem fim.
Gosto mais dos textos do Lucio quando ele aborda as questões amazônicas e vai ao âmago dos assuntos, equanto essa briga Maiorana X Barbalho não tem o menor interesse para o leitor.

Anônimo disse...

eu hein... o melhor da confusão é o desesperado rominho justificar o contrabando do papai: foi pra dar comida pros filhos "um bando de comilões".Entendi: se for pra alimentar a família pode contrabandear.

Anônimo disse...

Tem que ver isso aí: será que quando é pra sustentar família a gente pode praticar ilícitos?

Anônimo disse...

Os irmãos Maiorana estão se lixando sim ... as empresas não andam bem.