Espaço Aberto
O que tem a ver uma saboneteira com uma rosa?
Aparentemente nada.
Absolutamente nada.
Saboneteiras se vinculam, no máximo, a noções de higiene.
As rosas podem despertar múltiplas sensações. Podem expressar uma grande notável variedade de significados.
Mas, à primeira vista, será difícil associar uma saboneteira a uma rosa.
Pois há anos, há muitos anos, Emir Bemerguy, que subiu para a eternidade há sete dias, em Santarém, associou, casou, uniu uma saboneteira a uma rosa.
Durante anos, ele habituou-se a levar pra casa, regularmente, uma rosa que era extraída de roseira plantada em área próxima à Sacristia da Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
Ao término da missa das 18h, Emir saía, passava a mão numa tesourinha que levava no bolso, tirava a rosa cortando-a pelo talo, colocava-a dentro da saboneteira e ia embora pra casa.
"Nós até já sabíamos quando era o dr. Emir que tinha tirado uma rosa da roseira. Quando era ele, a rosa estava cortada no talo. Quando eram outros, tudo ficava retorcido", testemunhou padre Ronaldo, ao final da missa de corpo presente do poeta, na quarta-feira da semana passada.
Ao chegar em casa, Emir tirava a rosa de dentro da saboneteira e a entregava a Berenice, uma rosa viva, uma flor de pureza, com quem viveu há 53 anos.
A saboneteira, rósea, está guardada próximo à escrivaninha do poeta. Dentro dela, rebrilhante, a tesourinha que ele usou tantas vezes para tirar uma rosa e levá-la à sua mulher.
Um saboneteira tem tudo a ver com uma rosa quando ambas caem nas mãos de um poeta.
Um poeta que se inspira a tomar uma saboneteira para guardar uma rosa pode até ter optado, racionalmente, por um associação esquisita, desconexa, estranha.
Mas não estranhem os poetas.
Não estranhem.
Não estranhem a saboneteira e a rosa de Emir Bemerguy.
Ele fez da simplicidade e da singeleza inspirações para sua poesia.
Na poesia, externou seu amor.
Por Berenice.
Por seus filhos.
E por Santarém, que ele amou e cantou irresistivelmente, quase até o esgotamento.
Por Santarém que o inebriou a fazer versos ternos, que falavam de luares, banzeiros, de piracaias, de amores derramando-se sob o vento de cima soprado a partir do Tapajós, esparramado em frente à cidade.
Foi essa Santarém que, há uma semana, se despediu de Emir Bemerguy de uma forma comovente, encantadora, terna, inebriante.
Emir Bemerguy se foi.
Ficaram 20 livros prontinhos para serem publicados.
Ficou uma saboneteira com uma tesourinha dentro.
Ficou a lembrança de muitas rosas - dezenas, centenas - que ele usou para externar seu amor.
Ficou a lembrança de que as coisas simples da vida é que, verdadeiramente, têm beleza e odor.
Têm olor e sabor.
Encanto e ternura.
Tudo em sintonia.
Tudo em harmonia.
Como uma saboneteira que guarda uma rosa.
Aparentemente nada.
Absolutamente nada.
Saboneteiras se vinculam, no máximo, a noções de higiene.
As rosas podem despertar múltiplas sensações. Podem expressar uma grande notável variedade de significados.
Mas, à primeira vista, será difícil associar uma saboneteira a uma rosa.
Pois há anos, há muitos anos, Emir Bemerguy, que subiu para a eternidade há sete dias, em Santarém, associou, casou, uniu uma saboneteira a uma rosa.
Durante anos, ele habituou-se a levar pra casa, regularmente, uma rosa que era extraída de roseira plantada em área próxima à Sacristia da Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
Ao término da missa das 18h, Emir saía, passava a mão numa tesourinha que levava no bolso, tirava a rosa cortando-a pelo talo, colocava-a dentro da saboneteira e ia embora pra casa.
"Nós até já sabíamos quando era o dr. Emir que tinha tirado uma rosa da roseira. Quando era ele, a rosa estava cortada no talo. Quando eram outros, tudo ficava retorcido", testemunhou padre Ronaldo, ao final da missa de corpo presente do poeta, na quarta-feira da semana passada.
Ao chegar em casa, Emir tirava a rosa de dentro da saboneteira e a entregava a Berenice, uma rosa viva, uma flor de pureza, com quem viveu há 53 anos.
A saboneteira, rósea, está guardada próximo à escrivaninha do poeta. Dentro dela, rebrilhante, a tesourinha que ele usou tantas vezes para tirar uma rosa e levá-la à sua mulher.
Um saboneteira tem tudo a ver com uma rosa quando ambas caem nas mãos de um poeta.
Um poeta que se inspira a tomar uma saboneteira para guardar uma rosa pode até ter optado, racionalmente, por um associação esquisita, desconexa, estranha.
Mas não estranhem os poetas.
Não estranhem.
Não estranhem a saboneteira e a rosa de Emir Bemerguy.
Ele fez da simplicidade e da singeleza inspirações para sua poesia.
Na poesia, externou seu amor.
Por Berenice.
Por seus filhos.
E por Santarém, que ele amou e cantou irresistivelmente, quase até o esgotamento.
Por Santarém que o inebriou a fazer versos ternos, que falavam de luares, banzeiros, de piracaias, de amores derramando-se sob o vento de cima soprado a partir do Tapajós, esparramado em frente à cidade.
Foi essa Santarém que, há uma semana, se despediu de Emir Bemerguy de uma forma comovente, encantadora, terna, inebriante.
Emir Bemerguy se foi.
Ficaram 20 livros prontinhos para serem publicados.
Ficou uma saboneteira com uma tesourinha dentro.
Ficou a lembrança de muitas rosas - dezenas, centenas - que ele usou para externar seu amor.
Ficou a lembrança de que as coisas simples da vida é que, verdadeiramente, têm beleza e odor.
Têm olor e sabor.
Encanto e ternura.
Tudo em sintonia.
Tudo em harmonia.
Como uma saboneteira que guarda uma rosa.
Um comentário:
Muito legal seu blog!
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