Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós
O
grupo Orsa, de São Paulo, anunciou na semana passada, em São Paulo, a intenção
de interromper por quase um ano, a partir de janeiro, as atividades da sua
fábrica de celulose instalada em Monte Dourado, no Pará. A paralisação duraria
10 meses. Nesse período a fábrica, especializada em celulose de fibra curta,
seria substituída por outra unidade para passar a produzir celulose solúvel, em
outubro de 2013. Todos os funcionários atualmente contratados, cujo total varia
entre cinco mil e seis mil, seriam demitidos. Nas suas novas operações, a
fábrica irá utilizar um contingente muito menor de empregados.
O
encerramento da produção de celulose faz parte de um rearranjo que a International
Paper, maior produtora de papéis do mundo, realiza desde que adquiriu recentemente
75% das ações do Grupo Orsa. A unidade de Monte Dourado passaria a ser
fornecedora de matéria prima para as outras três fábricas de papelão para
embalagens e quatro unidades de produção de embalagens de papelão ondulado do
grupo. A companhia americana planeja investir 470 milhões de dólares (952
milhões de reais) na nova fábrica do Jari.
De
acordo com o comunicado feito pela empresa, os ativos de embalagem serão separados
dos negócios florestais e de celulose e transferidos para a nova empresa, como
parte da estratégia da IP “de crescimento de sua presença global no setor de
embalagens e de melhorar os serviços aos seus clientes ao redor do mundo”. A
expectativa das companhias é que a transação seja concluída no primeiro
trimestre de 2013, já que o negócio terá de ser submetido ao crivo de órgãos
governamentais.
Dirigentes
sindicais e alguns políticos do Pará e do Amapá, onde a Jari se instalou,
começaram a pressionar para tentar garantir os atuais empregos. O principal
alvo das gestões é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES, que concedeu 145,4 milhões de reais à Jari Celulose, para a modernização
da unidade industrial de Monte Dourado, localizada no município paraense de
Almeirim, e ao plantio de até 33,7 mil de hectares de florestas de eucalipto no
período de 2006 a 2008.
O dinheiro do BNDES corresponde a 70% do custo total do
empreendimento, de R$ 207 milhões. Esse visou a manutenção da competitividade
internacional da empresa, a partir da redução de custo de produção proporcionada
pelos investimentos industriais e do aumento da rentabilidade dos seus ativos
florestais.
O
Projeto Jari começou em 1967, quando o milionário americano Daniel Keith Ludwig
comprou uma vasta extensão de terras junto à foz do rio Amazonas para produzir
celulose, papel, arroz e bauxita refratária. A fábrica entrou em operação em
1979. Três anos depois um grupo de 32 empresas nacionais, lideradas por Augusto
Antunes, da Caemi, assumiu o controle da Jari.
Ludwig
se recusou a continuar pagando o empréstimo de 200 milhões de dólares concedido
pelo estaleiro Ishikawajima, que construiu a fábrica e a usina de energia sobre
plataformas flutuantes e as transportou do Japão até a Amazônia, pelo mar, por
30 mil quilômetros. Como era o avalista da transação, o governo federal teria
que honrar o compromisso e executar o americano. Ao invés de estatizar a Jari,
nacionalizou-a.
Em
2000 o Grupo Orsa, fabricante de papel e embalagens em São Paulo, sucedeu a
Caemi no controle acionário. Pagou o valor simbólico de um real e ficou
responsável pelas dívidas, em mãos principalmente do BNDES e do Banco do
Brasil.
Como
a fábrica de Monte Dourado tem capacidade para 410 mil toneladas por ano, a produção
acumulada até o final do próximo mês dará para atender os contratos em vigor
até março de 2013. A partir de outubro ela só produzirá celulose solúvel. O
Grupo Orsa disse que o destino a ser dado à unidade de celulose convencional
(que é o papelão) deverá ser decidido até o final deste ano.
A
decisão, segundo notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, beneficiará as demais empresas do setor, “em
um momento no qual há expectativa de maior pressão no mercado”, por conta do
início das operações da Eldorado em Três Lagoas (Mato Grosso do Sul), neste
mês, e de outras duas fábricas de celulose (Suzano e Arauco/Stora Enso), em
2013. Também os analistas ficaram satisfeitos. O banco americano JP Morgan apontou
os efeitos positivos para o mercado de celulose de eucalipto, principalmente
para Fibria e Suzano Papel e Celulose.
O
Pará, o Amapá e a Amazônia, como ficam nesse novo enredo? Apesar do grande
impacto que a decisão representa, a opinião pública local recebeu com espantoso
silêncio a informação.
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