segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Jari fechará sua fábrica de celulose em Monte Dourado


Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós

O grupo Orsa, de São Paulo, anunciou na semana passada, em São Paulo, a intenção de interromper por quase um ano, a partir de janeiro, as atividades da sua fábrica de celulose instalada em Monte Dourado, no Pará. A paralisação duraria 10 meses. Nesse período a fábrica, especializada em celulose de fibra curta, seria substituída por outra unidade para passar a produzir celulose solúvel, em outubro de 2013. Todos os funcionários atualmente contratados, cujo total varia entre cinco mil e seis mil, seriam demitidos. Nas suas novas operações, a fábrica irá utilizar um contingente muito menor de empregados.

O encerramento da produção de celulose faz parte de um rearranjo que a International Paper, maior produtora de papéis do mundo, realiza desde que adquiriu recentemente 75% das ações do Grupo Orsa. A unidade de Monte Dourado passaria a ser fornecedora de matéria prima para as outras três fábricas de papelão para embalagens e quatro unidades de produção de embalagens de papelão ondulado do grupo. A companhia americana planeja investir 470 milhões de dólares (952 milhões de reais) na nova fábrica do Jari.

De acordo com o comunicado feito pela empresa, os ativos de embalagem serão separados dos negócios florestais e de celulose e transferidos para a nova empresa, como parte da estratégia da IP “de crescimento de sua presença global no setor de embalagens e de melhorar os serviços aos seus clientes ao redor do mundo”. A expectativa das companhias é que a transação seja concluída no primeiro trimestre de 2013, já que o negócio terá de ser submetido ao crivo de órgãos governamentais.

Dirigentes sindicais e alguns políticos do Pará e do Amapá, onde a Jari se instalou, começaram a pressionar para tentar garantir os atuais empregos. O principal alvo das gestões é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, que concedeu 145,4 milhões de reais à Jari Celulose, para a modernização da unidade industrial de Monte Dourado, localizada no município paraense de Almeirim, e ao plantio de até 33,7 mil de hectares de florestas de eucalipto no período de 2006 a 2008. 

O dinheiro do BNDES corresponde a 70% do custo total do empreendimento, de R$ 207 milhões. Esse visou a manutenção da competitividade internacional da empresa, a partir da redução de custo de produção proporcionada pelos investimentos industriais e do aumento da rentabilidade dos seus ativos florestais.

O Projeto Jari começou em 1967, quando o milionário americano Daniel Keith Ludwig comprou uma vasta extensão de terras junto à foz do rio Amazonas para produzir celulose, papel, arroz e bauxita refratária. A fábrica entrou em operação em 1979. Três anos depois um grupo de 32 empresas nacionais, lideradas por Augusto Antunes, da Caemi, assumiu o controle da Jari.

Ludwig se recusou a continuar pagando o empréstimo de 200 milhões de dólares concedido pelo estaleiro Ishikawajima, que construiu a fábrica e a usina de energia sobre plataformas flutuantes e as transportou do Japão até a Amazônia, pelo mar, por 30 mil quilômetros. Como era o avalista da transação, o governo federal teria que honrar o compromisso e executar o americano. Ao invés de estatizar a Jari, nacionalizou-a.

Em 2000 o Grupo Orsa, fabricante de papel e embalagens em São Paulo, sucedeu a Caemi no controle acionário. Pagou o valor simbólico de um real e ficou responsável pelas dívidas, em mãos principalmente do BNDES e do Banco do Brasil.

Como a fábrica de Monte Dourado tem capacidade para 410 mil toneladas por ano, a produção acumulada até o final do próximo mês dará para atender os contratos em vigor até março de 2013. A partir de outubro ela só produzirá celulose solúvel. O Grupo Orsa disse que o destino a ser dado à unidade de celulose convencional (que é o papelão) deverá ser decidido até o final deste ano.

A decisão, segundo notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, beneficiará as demais empresas do setor, “em um momento no qual há expectativa de maior pressão no mercado”, por conta do início das operações da Eldorado em Três Lagoas (Mato Grosso do Sul), neste mês, e de outras duas fábricas de celulose (Suzano e Arauco/Stora Enso), em 2013. Também os analistas ficaram satisfeitos. O banco americano JP Morgan apontou os efeitos positivos para o mercado de celulose de eucalipto, principalmente para Fibria e Suzano Papel e Celulose. 

O Pará, o Amapá e a Amazônia, como ficam nesse novo enredo? Apesar do grande impacto que a decisão representa, a opinião pública local recebeu com espantoso silêncio a informação.

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