domingo, 17 de janeiro de 2010

O balé das águas em Lima, capital do Peru

Balé das Àguas, encenado mecanicamente no Parque das Fontes, em Lima, capital do Peru.
Luz, música e jatos d'água que ganham formas e movimentos sincrônicos.

Assista ao vídeo aqui.

Ajax, o injustiçado

Lúcio Flávio Pinto

Ajax d’Oliveira, que morreu na semana passada, aos 83 anos, dentre outras qualidades, possuía uma de importância para a vida pública: participou do poder local, durante os 20 anos do regime militar, sem tirar proveito pessoal das funções que ocupou. Aderiu ao regime de exceção por convicção, por seu anticomunismo e conservadorismo. Ocupou a prefeitura de Belém, por indicação do governador Aloysio Chaves (1975/1979), numa época em que ainda havia algum conteúdo ideológico ou programático no exercício dos cargos públicos.

Houve mérito nas melhorias que promoveu na cidade, com ênfase no bairro do Jurunas. Mas a iniciativa sua que ficará foi ter endossado documento elaborado um grupo de jovens urbanistas, que revelou a extensão e a nocividade do domínio da União sobre quase um quarto do perímetro urbano de Belém, prejudicando o crescimento da capital. Em visita à terra, o presidente-general Ernesto Geisel recebeu das mãos do prefeito o documento, não gostou do tom crítico, mas teve que engoli-lo porque refletia a verdade. A partir daí, os órgãos federais tiveram que começar a abrir mão dos seus latifúndios urbanos. Foi um marco.

Apesar da gagueira, talvez responsável por sua timidez e ensimesmamento, Ajax dizia o que pensava, sem se preocupar com as conveniências. Por isso incomodou muita gente dentro do seu próprio partido. Tinha a eleição para deputado federal garantida quando deixou a prefeitura para participar da campanha, mas foi traído dentro da Arena, a partir da cúpula. Pensava demais pela própria cabeça para seguir passivamente qualquer dos dois grupos em que o partido se cindira, embora fosse adepto de Jarbas Passarinho (o que lhe custou caro, até por falta de malícia para se acomodar à guerra interna).

A derrota o amargurou, mas nunca perdeu a paixão pela atividade pública. Ainda foi superintendente do Incra e da previdência social antes de se aposentar. Quando andava pelas ruas ou era encontrado em alguma solenidade, não deixava de parar quando alguém o chamava para tratar de política. E falava com entusiasmo sobre aquele mundo do qual fora marginalizado muito cedo – e injustamente. Seu espírito de homem público merecia ser mais utilizado numa terra enormemente carente dessas vocações.

sábado, 16 de janeiro de 2010

A história da Albrás, grande desconhecida


Lúcio Flávio Pinto

A Albrás é a maior empresa com sede no Pará e na Amazônia. Em 24 anos de funcionamento, sua produção acumulada já alcança 9 milhões de toneladas de alumínio, destinado principalmente ao exterior e, em particular, ao Japão, que ficou com quase metade desse total. A receita dessas exportações no período supera 13 bilhões de dólares. É a maior exportadora de alumínio e também a maior produtora do Brasil. É a 8º maior fábrica de alumínio do mundo e a líder no continente. Está a menos de 50 quilômetros em linha reta de Belém, mas raros paraenses a conhecem pessoalmente, sabem o que ela representa ou sequer que existe. Não parece que está em Barcarena: parece que foi instalada em Marte.

Já há uma boa maneira de apresentar a maior empresa do Estado aos paraenses. É através de um álbum, A História da Albrás, bem editado graficamente, em 232 páginas, com rica iconografia. Apesar de ser uma publicação institucional da companhia e ter sido escrita por um dos seus ex-presidentes, não é uma hagiografia nem chega a ser uma versão bitoladamente oficial.

Romeu do Nascimento Teixeira era realmente a pessoa mais habilitada a reconstituir, a partir de dentro, o que foram os 18 anos e meio de negociações nipo-brasileiras e os sete anos de implantação da Albrás. Ele foi o brasileiro que por mais tempo esteve na linha de frente do empreendimento, durante sete anos como seu mais duradouro presidente. Mas não perdeu o humor e certo senso crítico ao relatar a façanha que foi colocar uma moderna e potente refinaria de alumínio para funcionar no meio da selva amazônica. Hoje ela produz 44% acima da capacidade de projeto, que era de 320 mil toneladas, sem grandes investimentos adicionais, o que representa quase um terço (31%, para ser exato) da produção nacional.

A primeira questão que a Albrás suscita consiste em saber se ela foi concebida como um dos componentes do programa de integração da Amazônia à economia nacional, que os governos militares puseram em prática na transição do final da década de 60 para os anos 70 do século passado, ou se é um típico projeto internacional de enclave. A resposta deverá apresentar componentes desses dois fatores e de alguns outros. Já havia planos para dar aproveitamento energético aos rios da Amazônia e a existência de minérios começou a ser confirmada e mensurada a partir da descoberta e exploração da jazida de manganês do Amapá pela Bethlehem Steel/Icomi, na década de 50.

Fora dado o tiro de largada na corrida pelos valiosos recursos do subsolo da região e a principal condição para possibilitar seu aproveitamento era a oferta de energia, não só escassa como insuficiente na Amazônia. Principalmente para o minério que iria completar seu ciclo do metal primário, o lingote de alumínio (com a etapa intermediária da alumina).

Até o final dos anos 1960 apenas multinacionais haviam feito descobertas importantes de minérios na Amazônia, como manganês, bauxita, caulim, titânio, cassiterita e o principal deles, o minério de ferro de Carajás. A maior parte dessas descobertas aconteceu, certamente não por acaso, a partir de 1964, com as facilidades oferecidas ao capital estrangeiro pelo governo militar brasileiro.

Leia o artigo completo aqui.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A beleza e o exotismo de Muchupichu

Confira aqui a foto dos diretores de O Estado do Tapajós em Muchupichu, na última terça-feira.
Foto: Aluísio Jimenez.

Retrospectiva 2009 - Junho

A saga dos nordestinos - 1ª parte

Hélcio Amaral de Souza

Desde o período colonial que o nordeste brasileiro registra uma das mais desenvolvidas densidades demográficas, formadas por homens e mulheres destemidos, valentes e dotados de incomparável espírito de aventura, dispostos a enfrentar adversidades tão graves ou maiores que as vividas no sertão onde o solo árido e as prolongadas estiagens deixaram cicatrizes profundas na vida destes bravos brasileiros. Desesperados, procuraram outros locais e regiões onde a vida mostrasse um futuro mais promissor para seus filhos e netos e assim espalharam-se para outros centos sempre impelidos pela desejo do sucesso, voltados para o trabalho da agricultura manual, tirocínio para o comércio, financistas, ambicionando sempre o enriquecimento onde o comércio é a espinha dorsal.

A economia na Amazônia é composta de atividades cíclicas baseadas em extrativismo e cultura permanente, sendo as mais marcantes: DROGAS DO SERTÃO, CACAU, BORRACHA, JUTA e OURO. Em todos esses ciclos a história registra presença do homem nordestino contribuindo com o desenvolvimento econômico, miscigenando e ocupando o grande vazio desta imensa região. Não houve trabalho que o homem nordestino temesse. A imensidão líquida não foi obstáculo até mesmo para os que estavam habituados a prolongadas e castigantes secas. Alguns se tornaram hábeis navegadores do rio Amazonas e com bastante eficiência assumiram o comando de navios regionais e uma grande maioria habituou-se ao manejo das pequenas e arriscadas canoas e igarités, por ser estes os únicos meios de transporte que possibilitava acessar a margem dos rios onde se fixava a grande maioria da população amazônica. Não existiam estradas e até mesmo as vicinais carroçáveis eram de pouca distância.

A história nos mostra que na revolução cabana, em 1835, os nordestinos, Angelim e Vinagre lideraram e comandaram com bravura aquele movimento nativista alcançando a vitória, fato que se tornou marco na história da Amazônia.

Após a abertura da navegação motorizada no rio amazonas, em janeiro de l852, a presença do homem nordestino se tornou mais freqüente. As comunidades receberam trabalhadores braçais, médicos, agrimensores e advogados que ocuparam cargo de juiz, promotor, professor ou profissionais liberais que participaram da vida pública e privada acelerando a economia e desenvolvendo a política da região. A faculdade de direito do Ceará, por ser mais antiga do que a do Pará, encaminhou inúmeros juristas que chegaram a assumir a presidência e demais cargos da justiça paraense. Foi na década de 80 do século XIX que o fluxo migratório intensificou. A propaganda exacerbada da riqueza causada pela comercialização da borracha, despertou uma cobiça a todos os povos do mundo inteiro e nossos irmãos nordestinos foram os mais presentes nesta corrida em busca do enriquecimento fácil e rápido coletando a goma elástica para alimentar os carentes e insaciáveis mercados europeus e americanos que experimentavam a grande corrida da revolução industrial. Foi instalada em todo nordeste agencias alistando trabalhadores para a coleta de látex nas florestas da Amazônia. Os alistados eram encaminhados aos seringalistas, coronéis de grandes áreas localizadas à margem dos rios. As despesas de passagem e alimentação, desde o momento em que saiam do nordeste, eram debitadas ao alistado e anotadas no caderno de aviamento (conta corrente) junto com o rancho necessário a sobrevivência da permanência na floresta e que seria ajustado no momento da entrega do produto (borracha), coletado no período, que em grupo ou sozinhos permaneciam na floresta durante o período de estiagem, considerado o mais apropriado para a coleta do látex. A falta de princípios éticos e morais do “patrão” (seringalista ou aviador) impossibilitava o pobre seringueiro obter saldo positivo em sua conta, o que o obrigava viver em constante submissão, coagido até com ameaça de morte, caso desistisse da atividade.

Os artigos de subsistências recebidos para a sobrevivência na floresta eram anotados unicamente as quantidades e o preço só eram colocados no momento da entrega do produto. O preço arbitrado para a borracha, no momento da entrega, nem sempre correspondia ao valor dos artigos de subsistência recebidos e muito menos correspondia a um determinado percentual do valor de exportação do produto para o mercado externo. Não havia forma diferente de parceria nessa atividade. Todos os seringalistas eram inescrupulosos, rudes e truculentos, não se tem informação de um só que fosse diferente.

Na última década do governo Imperial, viveu no Pará um nordestino de Crato, que se tornou um mito; foi o coronel José Júlio de Andrade. Segundo o escritor Cristóvão Lins, em seu livro, Setenta Anos de Império Jarí, José Júlio foi um dos homens mais famosos e poderosos do Pará na última década do século XIX e início do século XX. Tinha bastante dinheiro, fama , influência política, prestígio entre os homens de negócio e se tornou o maior latifundiário do mundo, tendo dentro de sua propriedade um rio, Rio Jarí, desde a nascente até a foz. Na sede de seu império, Arumanduba, as companhias de teatro e ópera francesas, se exibiam, mesmo não tendo um teatro. Sua principal atividade era o extrativismo, tendo a castanha e a borracha como os principais, produtos. Diz o escritor que se não tivesse ocorrido uma forte arenga entre ele e o interventor do Pará, General Joaquim Cardoso de Magalhães Barata, provavelmente ele teria sido convidado para ser candidato a governador do Pará. Diz ainda o cuidadoso escritor, que José Júlio falava corretamente oito idiomas e que lia os clássicos gregos e romanos em sua original. A verdade é quer a fama de José Júlio, perdura até hoje na região do Rio Jarí onde mais tarde veio se estabelecer a Empresa Agro Florestal Jarí.

Hábito de comer peixe está acabando em Santarém

Suzana Pinto
Repórter

O hábito alimentar dos santarenos está mudando nos últimos anos. A procura pelo pescado nos supermercados caiu consideravelmente, aumentando o consumo de aves. Este fato contraria a crença de que é costumeira para as cidades à beira de rio a facilidade de consumo de peixe pela população. Nos restaurantes da cidade é visível a preferência dos clientes por pratos à base de carne bovina e frango.
Na mesa diária das famílias está mais presente a carne de frango ou bovina do que os peixes da região. Foi o que informou o empresário César Ramalheiro, administrador de uma rede de supermercados onde comprova que a venda de aves aumentou em 20% em relação ao mesmo semestre do ano passado. Hoje a saída da carne de frango representa 65% enquanto que a carne é de 32% e o restante representa a procura de carne de carneiro e suína. " O dado que atesta que o povo está se alimentando bem menos com peixe é o registro da venda de apenas 1% de peixes", confirmou Ramalheiro.
A retração ao consumo pode está ligada ao preço do pescado que está mais caro e incompatível com a renda da grande massa. Cezar frisa que outros pratos estão sendo incorporados ao hábito alimentar das pessoas como embutidos e massas, assim muitas pessoas deixaram de consumir peixe. Ele diz que há tempos isso era diferente em função da grande oferta de pescado e o frango consumido era da criação caseira, mas com o aumento de frigoríficos e industrialização da produção da carne de frango, o consumidor precisou se adequar, motivado pela dificuldade de comprar o pescado.
Uma visita aos restaurantes pode indicar como anda a preferência alimentar das pessoas. Carlos Meschede comanda um restaurante que funciona em Santarém há quase 75 anos. Ele concorda que a preferência pelo consumo da carne aumentou devido o aumento do preço do pescado que influencia diretamente do valor do prato. O quilo do Surubim, por exemplo, custa R$ 8, mas com preparo do peixe o restaurante perde pelo menos mais três quilos. Assim os pratos com pescados passam a ser mais caros e menos pedidos.
A clientela do restaurante é de 80% de visitantes que estão por motivo de trabalho na cidade como vendedores, mas não consomem o prato de R$ 40,00 de peixe preferindo os pratos de carne bovina. A mesma atitude é das pessoas que moram na cidade que também pouco escolhe os pratos de frango e de mariscos mesmo tendo a mesma proporção para todos os pratos. Meschede comenta que o frango deixou de ser uma comida de domingo sendo consumido no dia-a-dia. "Fiz uma experiência oferecendo caldeirada de jaraqui, peixe da época que está com preço acessível, contudo mesmo barateando o prato ele não teve saída e o produto teve ser jogado fora", resigna-se o empresário.
Os peixes nobres como pirarucu e tucunaré estão em falta nos fornecedores, e por conta da baixa na venda de peixe, os pratos de pescado encarece e o consumidor opta por outros pratos, principalmente por carne. Segundo Meschede, um dos motivos que levou a mudança na alimentação das pessoas à pesca predatória que torna o produto escasso e caro afastando naturalmente o consumo desses produtos.
Já no restaurante gerenciado por Márcia Melo os pratos de peixe são 80% mais pedidos pelos clientes que são 50% de visitantes. Na opinião dela "as pessoas preferem o prato de peixe para fugir da rotina da alimentação em casa, pois ela diz que a inovação e criatividade dos pratos chamam a atenção das pessoas, porém o preço do prato de peixe em relação a aves e outras carnes são similares", admite.
No meio da grande massa o costume de comer os churrascos em espetos também cresceu comprovado pelo crescente número de vendedores nas ruas.
Os vendedores de peixe na feira do tablado reclamam da baixa na venda no peixe. O vendedor Luiz Ferreira, 59 anos, trabalha desde os 9 anos com peixe e ele afirma que a cada 10 pessoas que procuram a sua barraca apenas 2 compram o pescado. Diariamente ele chega a vender 50 quilos, mas considera que a venda tem reduzido consideravelmente nos últimos anos. "As pessoas acham caro o quilo do peixe e não compram por isso a venda é pouca porque aqui na frente tem venda de frango que muita gente prefere comprar que é mais barato", afirmou. A colônia de pescadores Z-20 registrou até outubro do ano passado a venda de mais de 68 mil toneladas de peixe na feira do tablado com 31 espécies de peixe.
Peixe será o peru do Natal
Um dos fatores que Cezar Ramalheiro avalia com influente para a mudança no hábito alimentar dos santarenos foi o aumento das políticas ambientais na restrição da pesca ocasionado uma escassez no mercado. "O consumidor teve que se adequar ao que o mercado está oferecendo e como não há um incentivo para produção agropecuária então a população precisa comer e o frango veio salvar população", disse.
Na opinião de Ramalheiro, até mesmo o período tradicional do ano de consumo de peixe durante a semana santa se alterou pela escassez e aumento preço, pois sai mais barato importar bacalhau da Noruega do que comprar o pirarucu. "Isso pode sinalizar que futuramente a alimentação das famílias santarenas só terá nas mesas o peixe em dias especiais. O peixe tende a sumir da mesa das pessoas vai ser o peru do natal porque vai se tornar um produto nobre", arremata.

Quando a Volks virou fazendeira

Lúcio Flávio Pinto

Editor do Jornal Pessoal

O engenheiro agrônomo Manoel Moura Melo fez o que todas as pessoas que realizaram qualquer tipo de obra pública deviam fazer: durante dois anos refletiu sobre sua experiência pioneira, realizou pesquisas, fez entrevistas e com base nas suas anotações escreveu Trilhas de idealismo – a saga extensionista, pequeno e proveitoso livro (174 páginas, edição do autor) sobre a história da Acar-Pará. Um dos seus propósitos é contribuir para tirar a extensão rural da UTI, na qual se encontra em todo Brasil. Manoel acredita que se ela ressurgisse “dentro das fórmulas educativas, metodológicas e não-políticas poderia servir de um salva-vidas, para amenizar os problemas do campo e alavancar o desenvolvimento rural”

Gentilmente, Manoel me encaminhou outro livro, O Serviço Público por Dentro, em formato pequeno, também edição do autor (com apoio de amigos), 138 páginas. Com ironia, humor e doses de acidez, Renato Coral reflete nessa obra simples sobre sua longa experiência em órgãos públicos no Pará, tanto estaduais quanto federais. O livro se ressente de revisão e de melhor edição, mas alguns dos testemunhos têm valor histórico, mesmo quando os personagens existem sob pseudônimos, incluindo o autor.

O principal episódio na vida de servidor público de Coral foi em 1976 (ou 1977, segundo seu próprio registro), quando chefiava o IBDF (Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal, antecessor do Ibama) em Belém. Ele aplicou uma multa milionária ao projeto agropecuário da Companhia Vale do Rio Cristalino, de propriedade da Volkswagen, que era implantado em Redenção, no sul do Estado. A companhia desmatou ilegalmente nove mil hectares para formar pastagem.

A área foi toda queimada, provocando o maior incêndio até então registrado por um satélite, o Skylab, monitorado pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. A imagem do incêndio correu mundo e teve repercussão internacional. O valor da multa, de 23 milhões de cruzeiros da época, que superava todo o capital do projeto agropecuário, aprovado pela Sudam em 1974, também estourou em Brasília como uma bomba e foi escoar na Alemanha, terra natal da Volks.

Na sua crônica do acontecimento, relata Coral, falando de si na terceira pessoa do singular. Diz:

“Pressões federais, estaduais e de outros grupos empresariais desabaram sobre a cabeça do Delegado, que comeu o pão que o diabo amassou.

Veio então uma ordem do órgão central, para que o Delegado encaminhasse o Processo para Brasília, a fim de ser estudado por uma comissão de juristas.

Uns 15 dias após, o Processo foi devolvido às origens, com a multa reduzida em 90%, o que significava que o titular estava certo, mas foi muito carrasco.

Logo em seguida, o Delegado recebeu a visita de um dos assessores da empresa e, após uma conversa demorada, o representante perguntou qual a marca do automóvel pertencente ao Delegado.

O Da Silva [o próprio Coral], percebendo a malícia da pergunta, respondeu:

– ‘Opala, modelo 75, de segunda mão!’

Continuou o assessor:

– ‘Por que Opala?’

O Da Silva, querendo por um término na conversa, respondeu amuado:

– ‘Porque eu já ultrapassei a fase de carros de brinquedo’.

Retrucou o assessor:

– ‘Permita-me comunicar-lhe que o senhor é um dos poucos cidadãos que poderá receber um carro zero quilômetro, amanhã, na porta da sua residência, com todos os acessórios, bastando que faça a mágica de fazer pulverizar a papelada’.

O Da Silva então deu o tiro de misericórdia:

– ‘Mágico esconde vara. Pegue a sua e faça bom uso dela. Queira retirar-se que eu tenho mais o que fazer!’

Após a saída do aliciador, entra no gabinete Dona Dina, fiel secretária, e pergunta ao Delegado:

– ‘O senhor está lívido. O que foi que aconteceu?’

O Delegado contou a tentativa de suborno.

– ‘Comunique logo ao senhor Presidente’, aconselhou a secretária.

O Da Silva, mais calmo, raciocinou alto:

– ‘Dona Dina! Se eu comunicar à Direção Geral que fui tentado a receber o presente, caso o mandatário tomasse alguma providência, a multinacional iria defender-se alegando que eu é que teria pedido o automóvel. Como sou um bosta n’água de um simples Delegado Estadual, a proposta fica entre nós’.

Cobrindo os fatos, conversei várias vezes com Renato Coral nesse período, mas ele não denunciou a tentativa de suborno, pelos motivos que confidenciou à sua secretária e só revelou em 2000 (data da publicação do livro), quase três décadas depois. A história, porém, se encaixa na mecânica dos fatos de então. Ao se defender da autuação do órgão ambiental, a Volkswagen alegou que era pressionada por outro órgão federal, a Sudam, a lhe exigir celeridade na execução do cronograma do projeto agropecuário.

Rapidamente, quem tinha poder decisório contemporizou, houve acerto (não se sabe documentalmente até qual profundidade) e a Volks continuou a queimar, desmatar, plantar capim e colocar gado na sua propriedade. Até que demonstrou sua incompetência como fazendeira, o que tentou ser pela primeira vez na Amazônia, o único lugar do mundo onde não utilizou sua competência específica reconhecida internacionalmente (como montadora de veículos automotores) e arriscou a pecuária. Vendeu a fazenda para o grupo Matsubara, do Paraná, que passou em frente as terras, que acabaram servindo para assentamentos da malsinada reforma agrária na Amazônia. Uma moral nada edificante, como a lição da maioria dos “causos” que Renato Coral reuniu neste seu livrinho pedagógico. Muitos não acreditarão, mas essa reconstituição de experiências no serviço pública não é – embora seja – um livro de piadas de humor negro.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A carta falsa de Almir Gabriel


Lúcio Flávio Pinto,

Editor do Jornal Pessoal

O ex-governador Almir Gabriel produziu mais um dos documentos falsos dos quais a história brasileira tem sido pródiga. Aparentando dizer adeus à política, tenta criar a imagem de santo guerreiro contra o dragão da maldade. Imagem forte, mas falsa. Não há santo na política do Pará.

O ex-governador Almir Gabriel decidiu renunciar à condição de presidente de honra do PSDB do Pará (sem, entretanto, se desfiliar do partido, conforme também anunciara, três semanas atrás). Tomou a decisão por causa dos “atuais desvios dos princípios políticos e éticos que o alicerçavam”. O principal desses motivos seria “a rendição ao atual representante exibicionista do Bradesco na Companhia do Rio Amargo, somada ao governo egocêntrico de São Paulo, ‘territorializando’ a recolonização da gestão pública do Pará, dividido e agachado, no momento especialmente favorável para derrotar o petismo obeso e obtuso que retensamente [pretensamente] governa o Estado, hoje”.

Essa frase de efeito e bombástica não saiu da cabeça de quem pensa em abandonar a disputa pela indicação como candidato ao governo do Pará, que seria o propósito da carta. Sintomaticamente, ela foi remetida ao Diário do Pará, mas não ao PSDB, que aguarda por sua postagem até hoje. O ex-governador tucano anunciou o que faria – e não fez. Trata-se de um documento utilitário, a versão ao tucupi de outros exemplos tristemente famosos na história brasileira por não serem autênticos. Ou, no caso, não ser sincero.

Na verdade, Almir Gabriel apenas esboçou a intenção de abandonar a guerra de guerrilhas que adotou junto ao grupo atualmente hegemônico no PSDB, para impor novamente (pela quarta vez) sua candidatura, contra a posição da maioria dos seus correligionários. Mas o que ele tentou foi criar para uso próprio uma bandeira de campanha, a partir da identificação de um inimigo, de um monstro com múltiplas cabeças: a antiga Companhia Vale do Rio Doce (“amargo”, na recriação nada original do ex-governador), seu principal executivo, Roger Agnelli (o “representante exibicionista do Bradesco”), e suas derivações, que tanto favorecem o PSDB do governador paulista José Serra quanto o PT do presidente Lula e da governadora Ana Júlia Carepa.

Na carta, Almir manifesta a crença no surgimento de “novos líderes”, que, junto com o povo paraense, “darão as respostas e lições adequadas pelo voto soberano livre altivo de sua maioria”. Como não há um novo líder enquadrável nesse perfil, que tal pensar na volta do “santo guerreiro” Almir Gabriel, o único que se apresenta com a disposição de enfrentar o dragão da maldade?

Só se o povo paraense abstrair duas coisas: a memória e a verdade. Se a Vale se tornou o principal personagem em terras paraenses, atuando com desenvoltura tanto na economia quanto na política, e se esse poder de mando assumiu nova forma colonial a partir de uma sede metropolitana real, que é São Paulo, o doutor Almir Gabriel não tem a menor autoridade moral, ética, política ou administrativa para se apresentar como o cavalheiro imaculado, capaz de reconquistar a autonomia e a dignidade do Pará. O capítulo mais recente dessa “territorialização da recolonização”, para empregar o patoá – repleto de neologismos – do tucanato dubidativo, começou durante o primeiro mandato do governador Almir Gabriel (1995-1999).

Primeiro foi quando a CVRD foi privatizada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, de uma forma não só lesiva aos interesses nacionais (e à própria lógica do mercado), como ilegal e imoral, já que nem as regras do edital de venda foram respeitadas pelos vendedores. Em seguida, foi quando o deputado federal do PSDB de São Paulo (e ex-ministro de Fernando Collor de Mello), Antônio Kandir, propôs uma lei isentando de ICMS as matérias primas e produtos semi-elaborados que fossem exportados. A medida sangrou em especial dois Estados: o Espírito Santo e o Pará. Os capixabas conseguiram criar sucedâneos e paliativos para a hemorragia. Os paraenses ficaram na “verbalização”, exercício característico dos tucanos. Vitória tem o melhor PIB per capita dentre as capitais do Brasil. Belém, o quarto pior. A diferença entre uma e outra é de seis vezes (600%).

O doutor Almir esbravejou a princípio, mas se enquadrou ao puxão de orelhas da direção nacional do seu partido e a iniciativas de prestidigitação da própria Vale, algumas feitas diante do público, outras em gabinetes fechados. O governador se deixou levar até por uma pantomima primária, cedendo sua presença solene para o lançamento da pedra fundamental da usina de cobre da Salobo Metais, em Marabá, que não passava de jogo de cena, para calar sua excelência. Como, de fato, calou.

Incoerente com o que só agora afirma, o governo do doutor Almir concebeu no ano 2000 a lei 6.307, que ampliou os benefícios para a Vale ao assegurar o diferimento do ICMS “aos contribuintes que realizem operações relativas à extração, circulação, comercialização, operações e prestações de serviço de transporte de bauxita, alumina, alumínio e seus derivados, manganês, minério de ferro, no território do Estado”. É quase a mesma lei (5.758) que favoreceu a Vale em agosto de 1993, da lavra de Jader Barbalho, do qual o doutor Almir diz-porque-diz ser diferente, o oposto, a alvura da pureza em contraste com o negror da indecência.

A medida abriu um enorme guarda-chuva para a companhia se proteger (e se desviar) da cobrança de imposto, inclusive a devida, desfavorecendo o erário. Mas já se enquadrava na perspectiva do governador, de que seria preciso ir além do limite da responsabilidade (outro jargão nacional tucano) para transformar um poste eleitoral em seu sucessor, na eleição de 2002. Daí o rancor e o ódio de Almir contra Simão Jatene, que lhe devia ser submisso porque sua eleição só se tornou possível pelo uso extremado da máquina oficial, azeitada por recursos legais e “não contabilizados” (para usar outro neologismo, este petista).

Nesse período, a Vale ou era fartamente elogiada ou favorecida por silêncio obsequioso. Ela foi responsável por quase dois terços dos recursos oficialmente utilizados pelo PSDB para eleger Jatene governador. Foi a campanha estadual que mais a empresa ajudou em todo país. Aí, sim, guardando alguma proporção com o tamanho dos recursos que a empresa explora no Pará.

Mesmo sendo incoerente, Almir Gabriel tem razão quando lança o véu do descrédito sobre todos os governadores que se relacionaram com a mais importante entidade em atuação no Estado, que é a antiga Companhia Vale do Rio Doce. Seu primeiro interlocutor no poder foi o senador e ministro Jarbas Passarinho, que pôde colocar seus protegidos em cargos de direção local da empresa e usar sua estrutura para ter mobilidade na extensa base territorial do Estado. Já Alacid Nunes usufruiu a posição de integrante do conselho de administração da companhia, além de outros mimos. Aloysio Chaves, fiel à sua postura hierática, andou trocando farpas com a empresa e obrigando-a a engolir algumas de suas posições, mas foi traído pelo episódio da venda das terras de Carajás, que lançou pingos de lama sobre o seu governo, a partir de dentro dele.

A Vale achou que ia começar a ter problemas quando assumiu o primeiro governador de oposição, o primeiro também eleito pelo povo desde 1966. Eu estava nos fundos do cinema de Carajás quando a cúpula da companhia teve o primeiro contato com Jader Barbalho. Seu pronunciamento – frontal e crítico – impressionou vários executivos, que foram lá atrás do salão pedir informação sobre o jovem político, para eles uma surpresa e um choque. Esse estado de espírito ainda persistia, embora já atenuado, quando Jader discursou na inauguração da Albrás, em outubro de 1985, e incorporou posições dos críticos do projeto. Mas logo se viu que tratava-se de figura de linguagem, para usar uma expressão polida.

A Vale tem sido alvo de muito tiroteio no Pará, mas, sem exceção, quando a carga parte das posições de poder, é fogo de artifício e bala de festim. Ou moeda de troca. O PT e a governadora Ana Júlia Carepa falam da companhia como de um belzebu, mas acabam de incorporar 180 milhões de reais aos cofres públicos, graças a um acordo, através do Programa de Regularização Fiscal das Empresas do Pará (o Regular), criado em 1º de agosto e já extinto. Do total dos valores acertados, 90% foram recolhidos pela Vale, que pagou quase R$ 180 milhões, à vista, e economizou outro tanto de débitos acumulados, já inscritos na dívida ativa ou sob execução.

Só não foi um negócio da China, ao qual a empresa está tão acostumada, porque foi ainda melhor: um negócio do Pará. A Vale fez o melhor dos acordos e o governo, à míngua, sem liquidez, recebeu uma injeção de fortalecimento para suas obras – e sua campanha eleitoral, naturalmente. A Vale também se acostumou a esse tipo de expediente na sua relação com os políticos e autoridades locais. Com a elite do Pará, em suma.

Se o diagnóstico do médico Almir Gabriel sobre a anomalia do exercício tanto da soberania quanto da territorialidade do poder no Pará é preciso, ele não é exceção no elenco de líderes omissos e coniventes com essa situação. Pelo contrário: é um dos que mais contribuiu para que essa situação se consolidasse. O Pará continua órfão de líder de verdade, dotado de autonomia e competência para lidar com os principais personagens da história do Estado. Como todos os demais que critica de forma hipócrita, o doutor Almir é passado, não presente. E muito menos futuro.

Retrospectiva 2009 - Junho

Paraenses vivem no apagão

No Blogsfora, nada, de Simone Romero:

Não é apenas no quesito tributos que o Grupo Rede, sócio controlador das Centrais Elétricas do Pará (Celpa), vem causando prejuízos aos paraenses. A qualidade do fornecimento, atestada pelos indicadores da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é uma das piores - senão a pior - do País.

Os números são assustadores. Enquanto o Brasil registrou, em 2007, uma média aual de 11 interrupções de fornecimento com um total de 16 horas sem energia elétrica para cada conjunto de consumidores, no Pará ocorreram 45,66 interrupções que deixaram os paraenses por 56,92 horas no escuro.

A média local é elevadíssima, mesmo quando comparada ao desempenho de outras distribuidoras controladas pelo grupo Rede. As Centrais Elétricas do Mato Grosso (Cemat), por exemplo, registraram, também em 2007, 24,80 interrupções em média para cada conjunto de consumidores, com corte no fornecimento de energia por 27,54 horas.

A situação se agrava quando a comparação é feita com estados com PIB semelhante ao do Pará, mas não atendidos por concessionárias do Grupo Rede. É o caso do Ceará, onde a Coelce registrou, em 2007, um desempenho médio de 7,87 interrupções com 9,40 horas sem atendimento.

Os relatórios da Aneel apontam, ainda, para um outro fato importante: Enquanto o Brasil, a Coelce e a própria Cemat vêm apresentando, desde 2001, uma melhoria na qualidade dos serviços oferecidos, com redução dos indicadores de descontinuidade, no Pará a tendência é inversa.

Em 2001, a média anual de horas sem fornecimento de energia para os conjuntos de consumidores paraenses era 29,46. No mesmo ano a quantidade média de interrupções atingiu 31,72.

Em 2008, o cenário local se mostrava ainda pior. Apenas no primeiro trimestre, o intervalo de tempo sem fornecimento de energia somava 56,45 horas – um número praticamente igual ao registrado em todo o ano anterior. Em relação às interrupções, entre janeiro e março de 2008, a média já acumulava 37,96 registros, com tendência a superar o resultado verificado no ano de 2007.

A esses indicadores soma-se um outro que comprova, sem nenhuma dúvida, que o estado possui um dos piores atendimentos em energia elétrica, a despeito de abrigarmos Tucuruí, a maior hidrelétrica 100%brasileira: dos 188 conjuntos de consumidores existentes no Pará em 2007, 169 apresentavam padrões violados de voltagem, o que corresponde a 89,89% do total.

Leia mais: Multas já ultrapassam R$ 37 milhões

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Retrospectiva 2009 - Junho

Arca de Noé Santarena

Jubal Cabral Filho:

Um dia, o Senhor chamou Noé que morava em SANTARÉM e lhe ordenou:

- Dentro de 6 meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que o Pará seja coberto pelas águas.
Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal.
Vai e constrói uma arca de madeira.

No tempo certo, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o céu.

Noé chorava, ajoelhado no quintal de sua casa, quando ouviu a voz do Senhor soar furiosa, entre as nuvens:

- Onde está a arca, Noé?

- Perdoe-me, Senhor suplicou o homem. Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas.
Primeiro tentei obter uma licença da Prefeitura , mas para isto, precisa ter prefeito, além das altas taxas para obter o alvará, me pediram ainda uma contribuição para a campanha para eleição do prefeito do PT.
Precisando de dinheiro, fui aos bancos e não consegui empréstimo, mesmo aceitando aquelas taxas de juros...
O Corpo de Bombeiros exigiu um sistema de prevenção de incêndio, mas consegui contornar, subornando um funcionário. Começaram então os problemas com o IBAMA e a SEMA para a extração da madeira.
Eu disse que eram ordens SUAS, mas eles só queriam saber se eu tinha um "Projeto de Reflorestamento " e um tal de "Plano de Manejo ". Cujo os quais levam aproximadamente de 02 a 03 anos para ser aprovados.
Neste meio tempo ELES descobriram também uns casais de animais guardados em meu quintal.
Além da pesada multa, o fiscal falou em "Prisão Inafiançável " e eu acabei tendo que matar o fiscal, porque, para este crime, a lei é mais branda.
Quando resolvi começar a obra, na raça,apareceu o CREA e me multou porque eu não tinha um Engenheiro Florestal para retirada da madeira, e um Engenheiro Naval responsável pela construção.
Depois apareceu o Sindicato exigindo que eu contratasse seus marceneiros com garantia de emprego por um ano.
Veio em seguida a Receita Federal , falando em "sinais exteriores de riqueza" e também me multou.
Finalmente, quando a Secretaria de Municipal do Meio Ambiente pediu o " Relatório de Impacto Ambiental " sobre a zona a ser inundada, mostrei o mapa do Pará.
Aí, quiseram me internar num Hospital Psiquiátrico!
Sorte que o INSS em Santarém funciona precariamente e estava de greve...

Noé terminou o relato chorando, mas notou que o céu clareava perguntou:

- Senhor, então não irás mais destruir o Pará?

- Não! - respondeu a Voz entre as nuvens . Pelo que ouvi de ti, Noé, cheguei tarde!
A governadora do Pará já se encarregou de fazer isso!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Retrospectiva 2009 - Maio

Lúco Flávio Pinto: O homem mudou o rio

Como sempre acontece quando as cheias dos rios na Amazônia são maiores, as autoridades se movimentaram para socorrer os “flagelados” e aparecer diante da opinião pública. Depois, tudo voltará ao que era antes. Este ciclo, porém, pode estar chegando ao fim.

Tem sido sempre assim: o Brasil só descobre o movimento anual das águas na vasta bacia amazônica, a maior do mundo, quando ela alcança o nível da tragédia. Não foi diferente neste ano. As imagens transmitidas pela televisão mostravam casas submersas, gente abrigada em acampamentos, destruição e caos. No entanto, a subida das águas é fato natural e, com as tecnologias modernas, francamente previsível – além de ser uma dádiva da natureza. Deveria causar tanto estrago assim e seus efeitos se tornarem nocivos e irreparáveis?

Não há dúvida que a ação das águas deixou de ser apenas uma manifestação dos elementos da natureza. A Amazônia brasileira já tem 22 milhões de habitantes, um tamanho considerável em relação ao próprio país, mas que tem uma tradução mais exata quando referido ao conjunto da região. A parte amazônica da Bolívia, a segunda em população, tem um quinto da população brasileira no espaço amazônico do continente.

O significado dessa grandeza, entretanto, não se traduz com fidelidade em termos de habitante por quilômetro quadrado: a relação ainda é insatisfatória para aqueles que defendem a plena ocupação física da região, com muitos milhões a mais de pessoas. Mas quem pensa assim não tem uma idéia de Amazônia sequer próxima da realidade. Ainda mais porque há expressivas concentrações populacionais no meio urbano: mais de dois milhões na Grande Belém, 1,5 milhão em Manaus, 400 mil em Porto Velho.

Hoje, há agrupamentos urbanos de mais de 100 mil hectares espalhados pelo interior amazônico, com seus efeitos para fora e para dentro das cidades, que atraem ou espraiam conseqüências. Neste ano houve uma cheia que evidenciou essa nova realidade, ainda mal percebida pelos analistas e pelos gestores da coisa pública. Em Altamira, o auge dos prejuízos da enchente não coincidiu com o máximo das chuvas ou com a elevação excepcional do nível do rio. Os maiores prejuízos, aliás, não vieram diretamente do rio que banha a cidade. Eles surgiram como efeito da ação humana, que alterou e desequilibrou as condições naturais da área.

A maior cheia da história da cidade de Altamira foi provocada pelas sucessivas barragens construídas aleatoriamente ao longo do igarapé Altamira, ocupado por produtores rurais em função da rodovia Transamazônica. Ninguém parece ter pensado numa hipótese factível com a nova paisagem: o que aconteceria se uma das barragens se rompesse e o fluxo d’água seguisse pelas outras na direção da cidade? Uma tragédia, é claro. Foi o que aconteceu no domingo de páscoa, com danos como nunca houve antes, em função de chuvas muito mais intensas do que em outros invernos rigorosos. Foram 200 milímetros num único dia, o dobro do que choveu em Barcarena, onde o pampeiro provocou o transbordamento de bauxita contaminada na barragem da fábrica da Alunorte, poluindo os cursos d’água. O prejuízo foi multiplicado também porque a população de Altamira continuou a crescer acima da média e do recomendável, em parte por causa da atração pelas obras da hidrelétrica de Belo Monte, que a Eletronorte quer iniciar.

O polêmico projeto foi lembrado pelos que se surpreenderam com a súbita e rápida elevação do nível das águas, que arrastou tudo no seu caminho, em contraste com a evolução muito mais lenta do rio Xingu, nas suas cheias anuais. No momento em que a inundação chegou à sua altura máxima, o rio estava abaixo dos níveis médios do período. E se a cheia sazonal fosse grande? E se o rio já estivesse transformado em lago, com área de 400 quilômetros quadrados (ou 40 mil hectares), em frente a Altamira, pela represa de Belo Monte? A enxurrada encontraria uma barreira de água muito maior e a inundação seria muito mais desastrosa.

Numa das raras interpretações corretas que a enchente recebeu, Rodolfo Salm, professor da Universidade Federal do Pará, observou, em artigo escrito para a revista eletrônica Correio da Cidadania, que os moradores da cidade diziam “que o estrago teria sido ainda maior se o Xingu não estivesse tão baixo para esta época do ano, facilitando o escoamento do imenso volume de água”. Imaginando o pior, ele pergunta: “como teria sido se este igarapé que corta a cidade já estivesse barrado em um nível muito mais alto pela hidrelétrica de Belo Monte”?

Citando Oswaldo Sevá, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, de São Paulo, Salm respondeu a essa interrogação: “se essas obras já tivessem sido realizadas a água teria invadido a avenida Beira Rio, todo o centro comercial, o novo hospital regional, o cemitério e até mesmo a sede do consórcio Belo Monte. Ou seja, provavelmente tudo que estivesse pelas cotas 100 a 105 metros seria coberto. Praticamente toda a cidade, com a exceção das áreas de morros”.

Mesmo desconsiderando a probabilidade da ocorrência de eventos extremos como estes, ele considera que “os impactos da construção da maior hidrelétrica do Brasil, prevista para Altamira, seriam devastadores. O projeto inclui a conversão definitiva dos seus igarapés em corpos de água estagnada e poluída (numa área muito maior do que a área oficialmente inundada) e a criação de outras zonas de água parada em áreas baixas da cidade”.

Assim, haveria impactos na qualidade dos poços, devido à elevação do lençol freático. “Dá para imaginar como a cidade ficaria quando chovesse, inundando tudo. Para não falar dos impactos do reassentamento de 22% da população (16 mil pessoas) e a imigração prevista de cerca de 34 mil novos moradores, entre trabalhadores e suas famílias, durante as obras”, imagina Salm.

Ele conclui que a inundação de Altamira “serviu para reforçar a idéia presente na cabeça da maior parte da população, que liga barragens à idéia de catástrofes ou desgraças. O telejornal da Rede Globo jamais ousaria admitir ou divulgar o fato, mas o desastre representou um forte revés para a idéia mirabolante de construir uma barragem gigantesca no rio Xingu”. Salm espera que todos “tirem alguma lição dessa tragédia”. Ele, um dos opositores do projeto da hidrelétrica, pretende dar conseqüência à sua lição pessoal:

“O nível da água do igarapé em poucos dias normalizou-se, mas a marca do nível da água ainda é visível, alta, na parede das casas. Aos defensores da barragem, interessa que isso seja esquecido o mais rapidamente possível. Daí a importância de que os que lutam contra ela façam, urgentemente, marcas indeléveis em todos os lugares possíveis, casa, postes, muros, árvores. Apesar dos prejuízos, da tristeza e da revolta, esta cheia pode ser transformada numa arma política contra Belo Monte, num grande trunfo contra as obras e, assim, evitar a possibilidade da ocorrência no futuro de catástrofes de magnitude infinitamente superior”.

Salm, doutor em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, está convencido que, “mais do que arrasar a cidade de Altamira, Belo Monte destruiria a Volta Grande, um monumento da humanidade. Mas, muito mais do que isso, afetaria o rio todo, numa área de dimensões colossais. Tudo isso em nome de um projeto de utilização da energia do Xingu, que há décadas é a 1menina dos olhos’ dos capitalistas internacionais, de interesses sem pátria e que pautam a turma de figuras como José Sarney, Edson Lobão, Muniz Lopes, Dilma Russeff, Mangabeira Unger e Mauricio Tolmasquim, dentre outros obcecados pela expansão energética sem fim”.

A interpretação pode ser considerada radical ou irreal, mas os fatos que a motivaram são concretos. Se deles não é inevitável a conclusão a que Rodolf Salm chegou, os que defendem outras posições precisam rever suas análises para nelas incluir o fato novo da surpreendente enxurrada que destruiu parte da cidade de Altamira. O modelo construído para viabilizar ou justificar a usina de Belo Monte terá que incorporar essa má novidade, que dele não fazia parte, sob pena de se tornar insustentável. Os fatos novos podem não gerar os efeitos previstos por Rodolfo Salm, mas eles ao menos terão que ser considerados como novas hipóteses, a serem testadas e demonstradas. A viabilidade ambiental da obra está em causa novamente. No mínimo, pode ser considerada incompatível a manutenção das barragens do igarapé Altamira com o projeto da barragem de Belo Monte.

Situações como esta já são graves e exigem uma atenção particular. O dado que mais impressiona são os quase 20% de alteração da cobertura florestal original da região, a mata densa que recebeu de batismo, de Humboldt, o nome de hiléia. Esta é a marca humana profunda e, em muitas situações, definitiva: o rompimento do equilíbrio perfeito da natureza, em circuito fechado, da água à floresta, um organismo harmônico. A enchente em Altamira foi agravada pelo rompimento de barragens construídas pelo homem, sem consideração pela natureza. O espaço urbano avança sobre terreno que, antes, era domínio das águas. Um dia, as conseqüências dessa agressão se manifestam.

Mas talvez o cenário fosse muito menos desastroso se a Amazônia merecesse a atenção que só provoca quando o fato está consumado, quando o acontecimento se acomoda na previsão de que seu desenvolvimento deve ser realizado em meio ao caos, aos conflitos, a um enorme desgaste humano e desperdício econômico. Um especialista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, de São Paulo) disse no Jornal Nacional da TV Globo que os indicadores de um período de chuvas fora do comum começaram a se consolidar em fevereiro. As engrenagens governamentais, porém, só começaram a se movimentar dois meses depois. E provavelmente entrarão em hibernação quando as águas baixarem e o foco dos refletores tiver sido desviado para outra tragédia nacional. Espera-se, porém, que esse ciclo vicioso chegue ao fim. Para o bem da Amazônia.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Retropectiva 2009 - Abril

Procurador denuncia fraudes no Incra do Pará

O Globo:Evandro Éboli e Flávio Freire

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O procurador da República no Pará, Felicio Pontes, denunciou nesta quinta-feira, na Comissão de Agricultura da Câmara, graves irregularidades administrativas em duas das três superintendências do Incra no estado. Ele disse que dirigentes do Incra são acusados de desvio de dinheiro público e de criar assentamentos que existem apenas no papel. O Pará concentra graves problemas de conflito no campo.
"Em Santarém, foram constatadas irregularidades em todos os 107 assentamentos. Os gestores do Incra respondem por improbidade administrativa, e o superintendente em Santarém, Pedro Aquino de Santana, foi exonerado. O Ministério Público conseguiu, na Justiça, bloquear R$ 2,7 milhões do Incra, e dirigentes tiveram seus bens decretados indisponíveis.
- Foram encontrados lá assentamentos fictícios, duplicidade de assentados e desvio de recursos. Tivemos que parar a reforma agrária na região - disse Felicio Pontes.
Em Marabá, também foram detectadas irregularidades em 473 assentamentos.
- Não havia reforma agrária nenhuma. As pessoas eram simplesmente jogadas nas terras - afirmou o procurador.
Ele disse que, diferentemente de dez anos atrás, não faltam verbas para reforma agrária:
- O que há é desvio e má aplicação desses recursos. O Incra está sucateado, não fiscaliza.
O Incra disse que desconhece qualquer bloqueio de contas e bens. Segundo o órgão, entre 2003 e 2008 foram assentadas mais de 150 mil famílias no Pará, e os servidores fiscalizam a degradação ambiental nos assentamentos. O Incra disse, ainda, que a proteção ao meio ambiente é prioridade do programa de reforma agrária desde 2003.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Retrospectiva 2009 - Abril

Amazônia,a estrada para levar Dilma à Presidência

Ronaldo Brasiliense

A aprovação na Câmara dos Deputados de emenda que dispensa de licença ambiental prévia as obras em rodovias brasileiras, um “jeitinho brasileiro” encontrado pelo governo federal para acelerar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), deixou os ambientalistas do país em pé de guerra.Para a maioria das organizações não governamentais ambientalistas, a emenda busca beneficiar as candidaturas da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, à Presidência da República, e a do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, ao governo do Amazonas em 2010.Candidata do presidente Lula, Dilma Roussef precisa alavancar as obras do PAC, asfaltando as rodovias Santarém-Cuiabá (BR-163) e Transamazônica (BR-010), enquanto Nascimento luta pela pavimentação da rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319).A medida, apontada como um retrocesso ambiental sem precedentes no governo Lula e criticada de público pela ex-ministra do Meio Ambiente, senadora Marina Silva (PT), fixa um prazo máximo de 60 dias para que a autoridade ambiental – o Ibama, no caso – emita o licenciamento ambiental. Ao final desse prazo, a licença será automática.“Ao conceder automaticamente a licença depois do prazo máximo, o governo resgata um artifício usado durante a ditadura militar para legitimar seus interesses escusos – com o agravante de que a medida passa a valer pra todo mundo”, questiona Paulo Adário, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace. Diversos estudos apontam que 75% do desmatamento na Amazônia ocorrem ao longo de estradas pavimentadas da região. Até o fim de 2010, o PAC prevê a modernização, a pavimentação e a duplicação de quase duas dezenas de estradas, ao custo de mais de R$ 8 bilhões em investimentos públicos e privados. “A campanha eleitoral, antecipada pelo presidente Lula para eleger a chefe da Casa Civil como sua sucessora, virou um trator que derruba tudo pela frente. A política ambiental está sendo sacrificada deliberadamente no altar da sucessão presidencial. E que a ministra Dilma não tenha dúvidas: o PAC, que poderia perfeitamente ser rebatizado de Plano de Aceleração da Catástrofe, vai abrir uma cicatriz irreparável na política ambiental brasileira e na imagem do país no exterior. E, desta vez, não haverá plástica que dê jeito”, atacou Adário.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Retrospectiva 2009 - Abril

Mercados da Amazônia vendem olhos de boto e entregam órgãos de porco

Teste de DNA indica que órgãos comercializados são de outros animais
Em mercados da Região Norte existe o comércio de olhos de boto cor-de-rosa como amuletos. Um teste de DNA realizado pela Universidade Federal da Amazônia (Ufam) aponta que quem compra esse tipo de produto, além de estar cometendo crime ambiental, pode estar sendo enganado.
O exame indicou que esses órgãos, vendidos em mercados de Belém, Manaus e Porto Velho, são retirados principalmente do boto-cinza marinho, mas também podem ser de porcos ou ovelhas.
A pesquisa foi realizada pela bióloga Waleska Gravena, do Laboratório de Evolução e Genética Animal da Ufam. Com autorização do Ibama, ela coletou 43 amostras de olhos vendidos em capitais amazônicas. Depois de analisar geneticamente o tecido desses órgãos, ela descobriu que nenhum deles era de boto cor-de-rosa ou boto vermelho, como é chamado na região.
A maior parte dos olhos analisados era de boto-cinza, também conhecido como tucuxi, da espécie Sotalia guianensis, que só consegue viver no mar. Entre as amostras também foram encontrados quatro olhos de porco e um de ovelha. Segundo a pesquisadora, a ideia de realizar o teste de DNA surgiu depois que amigos dela lhe presentearam com olhos secos, supostamente de boto cor-de-rosa. Como o animal está ameaçado de extinção, ela queria saber se a caça do mamífero era frequente na Amazônia. “Como eles vinham secos, fiquei em dúvida se eram mesmo olhos de boto [cor-de-rosa]”.

Eletrobrás aumenta participação na Celpa

Ronaldo Brasiliense:

A Eletrobrás está negociando com a Rede Energia (novo nome do grupo Rede) um aumento de sua participação na Centrais Elétricas do Pará (Celpa). A estatal tem hoje 34% da distribuidora paraense e pode aumentar essa fatia para 49%. O Valor apurou que a negociação está em andamento e um acordo de acionistas permitiria a transferência da gestão da Celpa para a Eletrobrás. Como quer evitar a reestatização, a estatal terá participação minoritária.A Celpa é uma das distribuidoras mais problemáticas do país. Ela fechou 2008 com receita líquida de R$ 1,263 bilhão e lucro líquido de R$ 38,7 milhões. O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (lajida), foi de R$ 290 milhões. A dívida financeira bruta da empresa soma R$ 1,052 bilhão, que somados a dívidas tributárias (deve R$ 488 milhões ao Refis) e trabalhistas (R$ 233 milhões), entre outras, resulta em dívida total de R$ 1,7 bilhão. A Celpa tem a receber R$ 590 milhões dos controladores, sendo R$ 207 milhões da Rede Energia e R$ 382 milhões da QMRA.Se forem consideradas como pagas as dívidas relacionadas com os controladores ou empresas do mesmo grupo, a dívida financeira líquida da Celpa cai para R$ 1,1 bilhão, o que corresponde a 3,8 vezes a geração de caixa operacional. A opinião de um experiente analista do mercado é que se a Eletrobrás aumentar sua participação na Celpa em 15%, para 49%, deverá negociar antes a dívida dos controladores. "Sem isso, a situação é muito complicada", avalia.A Celpa tem baixa liquidez (apenas 4,39% das ações são negociadas), o que dificulta uma avaliação pelo valor de mercado. Não são conhecidos os critérios para estipular o preço para os 15% que irão para a estatal. No mercado estima-se que os 15% valem entre R$ 50 milhões e R$ 120 milhões caso sejam pagas as dívidas de partes relacionadas. Sem isso, o valor cai para no máximo R$ 50 milhões ou mesmo zero, dependendo de uma análise mais aprofundada dos números.

Lúcio Flávio Pinto: O cangaceiro do cimento

Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós

João Santos exibiu a prova derradeira de que era um verdadeiro sertanejo – antes de tudo, um forte: viveu com intensidade até o último dos seus dias. Uma parada cardíaca encerrou, com a melhor das mortes, a súbita, sua trajetória, no dia 15, em Recife. Ele tinha 101 anos. Até dois anos antes, ainda freqüentava a sede do seu império, um dos maiores do país e o terceiro de maior expressão originário do Nordeste, que ele montou, peça por peça, ao longo de 70 anos. O centro desse negócio era o cimento, um produto essencial e que foi consumido à larga durante a era do “milagre” econômico do regime militar, enriquecendo os dois cartéis do setor: o mais poderoso, do grupo Votorantim, que dominava a região mais rica do país, o Centro-Sul, e o de João Santos, que controlava o Nordeste e o Norte. Não exatamente por acaso, as duas empresas familiares eram de Pernambuco. Os Ermírio de Moraes se mudaram para o sul, se tornando cosmopolitas. João Santos permaneceu fiel à sua terra natal, Serra Talhada. a mesma onde nasceu outro sertanejo famoso: Virgulino Ferreira, o cangaceiro Lampião.
Foi com um cangaceiro sofisticado que eu me defrontei em 1977. Era um sábado à tarde. Marcílio Vianna, ao telefone, me perguntou se eu aceitava ir conversar com o “seu” João, no escritório da Cibrasa, na travessa Padre Prudêncio. Já não havia mais expediente, nem parecia um dia apropriado, mas troquei de roupa e fui. Marcílio, velho amigo do meu pai, era um cavalheiro.
O poderoso capitão da indústria, então próximo dos 70 anos, me esperava atrás da escrivaninha, numa sala austera. Já no cumprimento senti a barra: a mão que apertou a minha era forte, decidida. O olhar sugeria determinação. A voz era de comando, voluntariosa. A conversa ia ser a dois. Marcílio, advogado do grupo, esperou do lado de fora.
João Santos me fez uma proposta direta: queria patrocinar um giro meu pelo mundo. Eu iria visitar as principais fábricas de cimento, com despesas e pró-labore pagos por ele. “Quero que você seja o jornalista que mais conhece a indústria cimenteira”, me disse, com naturalidade. Estava certo de que eu aceitaria a tentadora oferta. Além dos conhecimentos acumulados e do prazer de uma longa jornada internacional, eu voltaria com muitos dólares no bolso. E não tinha compromisso na volta: podia escrever o que quisesse. “Eu sei que o senhor é inteligente e é capaz. Entenda o que lhe ofereço como um prêmio e uma demonstração de admiração”, observou ele, para vencer eventual resistência.
Mas eu não queria aquele prêmio. Agradeci pela iniciativa. Já conhecia o suficiente para me permitir analisar o que estava em causa: uma nova fábrica de cimento do grupo João Santos na Amazônia. Havia dois projetos emperrados na pauta do Conselho Deliberativo da Sudam. O mais antigo, da Caima, previa a instalação de uma fábrica no Pará. Quando a jazida inicial, a da Mulata, em Monte Alegre, se mostrou inadequada para cimento, o local foi deslocado para Itaituba, onde havia depósito enorme de calcário.
O interesse imediato de João Santos, que adquirira a Caima, era pelo mercado de Manaus. Ele queria levar o minério paraense para ser processado no Amazonas e manter em banho-maria o projeto de Itaituba, sentando em cima do mercado para ninguém o ameaçar (e ele impor seus preços). O Pará desempenharia mais uma função colonial, esta em dimensão regional, e o cartel se revigoraria. Eu já escrevera vários artigos, na coluna diária que tinha em O Liberal, combatendo essa idéia. Apoiava a posição do governo do Estado, de implantação simultânea das duas fábricas ou cancelamento de ambas. O governo acabou recuando e aceitou esperar pelo cronograma do grupo: de imediato, Manaus; quando desse bom tempo, Itaituba. Deve ter-se convencido do compromisso assumido pelo empresário.
O jogo estava nessa tensão quando houve a nossa conversa. O velho sertanejo tentou contraditar meus argumentos, a princípio com bonomia. Minha resistência, porém, despertou sua impaciência e fomentou sua fúria. Ele não estava disposto a engolir uma recusa, que não constava do seu repertório. O tom de voz se elevou e o confronto parecia iminente. Pressentindo o pior, Marcílio entrou na sala e me resgatou no momento certo, indo me deixar em casa. Foi a primeira e última vez que conversei com o grande personagem.
Mantive minha posição e pude continuar a expressá-la no jornal. Mas as coisas decorreram como João Santos queria: um dos primeiros atos de José Sarney como presidente, no lugar que devia ser de Tancredo Neves, em 1985, foi inaugurar a fábrica de Manaus. A de Itaituba esperou mais de uma década. Nesse período, funcionou como ponto de passagem (e de justificativa) para outros lugares de peças e equipamentos industriais da corporação.
O poder do pernambucano João Santos era muito maior do que ele se permitia sugerir. Todos os anos uma ordem de Brasília baixava para a Sudam em Belém cumprir: a destinação de recursos de incentivos fiscais para seus empreendimentos, com selo pré-fixado. Ele tinha um método ao mesmo tempo sedutor e esmagador de fazer a sua vontade prevalecer, sem aparecer (raramente deu entrevistas ou se permitiu fotografar). Se tinha um objetivo a alcançar, passava por cima das barreiras que surgissem no caminho da sua execução, como um trator.
Quando a isenção de imposto que recebeu do governo do Pará, na primeira administração do tenente-coronel Alacid Nunes, ameaçava ser questionada, pela sua insólita exclusividade, a sede da Cibrasa (que ele adquiriu do grupo Pires Carneiro) pegou fogo, com todos os papéis dentro. Foi acidente, disse a perícia. Ao deixar o cargo, Alacid passou a chefe do escritório da empresa em Belém, sem quarentena.
Outros militares e políticos, inclusive o legendário general Cordeiro de Farias, integrante da Coluna Prestes, estavam na sua folha de pagamento. Para os agregados, havia sempre um jatinho da Weston disponível. João Santos, além de inteligente, era um homem de sensibilidade, afeito às artes, amigo de Brennand e outros intelectuais. Aos recalcitrantes, porém, a fúria.
Ele viveu muito – e viveu bem. Fez história. Mas, ao contrário dos Ermírio de Moraes e outros notáveis, sua história ainda não foi escrita. Talvez porque, se o enredo não o agradasse, ele podia reagir como no confronto comigo. No final, porém, como outros sertanejos e cangaceiros, que também foi, com verniz de alta civilização, seu grande amigo Assis Chateaubriand, fundador de outro império, o das comunicações, ele acabaria por aceitar a desfeita. E, quem sabe, no íntimo, perdoar o desafeto. João Santos era, conforme a desgastada – mas inevitável – imagem, uma força da natureza. Até o último dia.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Retrospectiva 2009 - Março

Conselho Universitário proclama Carlos Maneschy o novo reitor da UFPA

Glauce Monteiro
Da assessoria de imprensa da UFPA

Nesta segunda-feira, dia 30 de março, o Conselho Universitário da UFPA proclamou o professor Carlos Maneschy como novo reitor da Instituição pelos próximos quatro anos. A decisão foi tomada durante a 4ª Reunião Ordinária em que cada conselheiro votou em um único candidato, conforme orientação da Lei nº 9192 de 1995.
A reunião durou mais de sete horas e contou com a presença de 88 conselheiros, que representaram estudantes, professores e técnico-administrativos da UFPA. Duas votações distintas aconteceram durante o evento. No primeiro momento, o Conselho referendou o resultado da Consulta à Comunidade Acadêmica, por 47 a 41 votos. Logo depois, aconteceu a votação para a escolha do novo reitor.
Com 49 votos, Carlos Maneschy lidera a Lista Tríplice que será enviada ao Ministério da Educação para a continuidade do processo de homologação do novo reitor da Universidade. Regina Feio ficou em segundo lugar, com 34 votos; seguida por Ana Tancredi, que obteve dois votos, e Ricardo IshaK, que recebeu um voto. O cargo de vice-reitor da UFPA também foi votado durante o encontro e será ocupado por Horácio Schneider.
O atual reitor da UFPA, Alex Fiúza de Mello, confirmou o envio da Lista Tríplice ao MEC com a o resultado da votação para reitor da Universidade contendo os três candidatos mais votados em ordem decrescente de número de votos. “O reitor acata a decisão do Conselho Universitário e, a partir deste momento, o processo está encerrado”.
Histórico: A consulta à comunidade universitária para a escolha do novo reitor da UFPA aconteceu no dia 3 de dezembro de 2008. O novo dirigente da Universidade foi eleito de forma direta, por voto proporcional-paritário, o que significa que as três categorias de eleitores (estudantes, docentes e técnico-administrativos) possuem a mesma influência no resultado final da eleição, conforme foi estabelecido pelo Conselho Universitário da UFPA (CONSUN), no dia 22 de setembro de 2008.No dia 5 de dezembro, a Comissão Eleitoral divulgou o resultado da consulta. Na ocasião, em primeiro lugar ficou o professor Carlos Maneschy com 23,13 pontos. Em segundo, a Professora Regina Feio, com 22,73 pontos. A professora Ana Tancredi ficou na terceira colocação, com 9,81 pontos, seguida pelo professor Ricardo Ishak, com 2,57 pontos.
O Conselho homologou o resultado no dia 22 de dezembro, com 47 votos a 30, e elaborou a lista tríplice que foi enviada ao Ministério da Educação no início de janeiro. O CONSUN também aprovou no dia 17 de março a ata da reunião que legitimou a consulta à comunidade. A pedido do MEC, os conselheiros se reuniram nesta segunda-feira para ajustar a elaboração da Lista tríplice aos moldes da Lei nº Lei nº 9192 de 1995. A posse do novo dirigente da UFPA está marcada para o dia 02 de julho.

Vendaval provoca pânico e causa prejuízos a embarcações em Santarém











No final da tarde de hoje o vento forte vindo do oeste provocou pânico entre os tripulantes das embarcações que estavam ancoradas no cais de arrimo de Santarém.
Por volta de 17 horas, as fortes ondas do rio Tapajós levaram a pique o barco Splendor. A embarcação foi jogada contra o muro do cais de arrimo e seu casco bateu nas argolas de ferro, o que provocou perfuração e entrada imediata de água em seu porão, virando lateralmente a embarcação. Os tripulantes só tiveram tempo de recolher equipamentos leves e objetos pessoais antes do sinistro se consumar.
Meia hora depois, ondas fortes provocadas pelo vendaval isolou as duas balsas que servem de atracadouro no terminal provisório da praça Tiradentes. Parte do aterro que dá acesso às balsas foi levado pela força das águas do rio. Os vendedores ambulantes que trabalham sobre as balsas foram atingidos pelas ondas, mas ninguém ficou ferido.
A partir desse momento as embarcações deixaram o cais de arrimo e o terminal em direção ao aobrigo no outro lado rio Tapajós, na Ponta Negra.
As fotos exclusivas são de Miguel Oliveira.

Lúcio Flávio Pinto: MRN: maior empresa é também a melhor?

Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós

A Mineração Rio do Norte, uma das maiores empresas de bauxita do mundo, instalada em Oriximiná, no Pará, bateu dois recordes com o seu desempenho no ano passado. Seu faturamento líquido superou um bilhão de reais e as vendas ultrapassaram a marca de 18 milhões de toneladas, 3% a mais do que no exercício de 2007. Em seu porto privativo, às margens do rio Trombetas, 393 navios atracaram para embarcar minério, 15 a mais do que no ano anterior, numa média de mais de um navio por dia durante 2008, ano em que foi considerada “a melhor empresa de mineração do Brasil” no anuário Valor, que seleciona as mil maiores empresas do país.
Para um empreendimento que começou a operar exatamente 30 anos atrás, com uma capacidade instalada de 3,5 milhões de toneladas, a multiplicação da sua produção por cinco é um fato de grande significado. E a escala deverá se manter pelos próximos anos, conforme a diretoria da MRN anuncia no seu relatório anual, divulgado no mês passado. Apesar do desempenho apreciável, o lucro líquido da empresa quebrou pela metade, descendo de R$ 432 milhões em 2007 para R$ 220 milhões no ano passado.
As causas principais foram a forte valorização do dólar no final do exercício (que ocasionou variação cambial líquida negativa de R$ 106 milhões) e o novo sistema de tributação, que passou a incidir sobre o lucro real e não mais sobre o lucro presumido. A mudança resultou do encerramento da participação da empresa no programa de refinanciamento da dívida junto ao governo federal, o Refis. Como efeito dessa nova aplicação, a MRN recolheu quase R$ 110 milhões de imposto de renda e contribuição social em 2008 contra R$ 33 milhões em 2007.
A empresa teve que continuar recorrendo a financiamento de curto prazo para manter o seu fluxo de capital. Mas acredita que sua capacidade de geração de caixa “permite a renovação dos empréstimos de curto prazo ou a troca para linhas de crédito de longo prazo”, como observa o relatório da diretoria. Ela acredita que poderá também reassumir o controle de R$ 573 milhões, que depositou em juízo para poder recorrer da multa que lhe foi aplicada em 2003 pela Receita Federal, sobre uma redução de capital que efetuou em 1999, segundo o fisco, de forma ilegal. O valor original da multa, então a maior do país, era de R$ 316 milhões. A Rio do Norte acha “possível” ter êxito nesse recurso. Por isso, não contabilizou o passivo contingente nesse valor.
Dez anos depois do fato que provocou a ação da Receita Federal, a matéria ainda está dependendo de uma decisão final da justiça. Na época, os sócios da mineradora decidiram reduzir em um terço o capital da empresa, por considerá-lo excessivo. “Esqueceram” que parte desse capital foi constituída graças à colaboração financeira do governo federal, através dos recursos dos incentivos fiscais, e de outros tipos de benefícios, que não foram devidamente abandados do dinheiro que voltou aos cofres dos sócios por conta da redução do capital. O erário nada recebeu por isso e a comunidade, com o encolhimento da empresa, deixou de ser favorecida por investimentos sociais como contrapartida aos subsídios econômicos e financeiros.
Talvez hoje a empresa não repetisse a iniciativa, ou, pelo menos, não agiria da mesma maneira, categórica e autoritária. A MRN possui hoje mais elos com a comunidade em torno do projeto e assumiu compromissos com suas condições sociais e ambientais de vida. Há uma melhora evidente nesse relacionamento, à parte o marketing de relações públicas e propaganda. Ele ainda impede um aprofundamento da análise sobre o que essa grande mineradora, a melhor do país na classificação do Valor, pode significar para os municípios onde atua e para o Estado.
Os mecanismos de regulação e intervenção do governo federal no empreendimento melhoraram, beneficiando o seu recolhimento de impostos. Mas as rendas estadual e municipais não acompanharam esse incremento, sobretudo porque continuam em vigor (e assim permanecerão até, pelo menos, 2013) os favores aos exportadores de matérias primas e semi-elaborados. Enquanto a receita específica do imposto de renda quase dobrou entre 2007 e 1008 (de R$ 40,5 milhões para R$ 79,2 milhões), a de ICMS praticamente não mudou (R$ 25,7 milhões e 25,8 milhões, respectivamente). A compensação financeira prevista pela execrável Lei Kandir, de 1997, sofreu uma pequena involução (de R$ 29,8 milhões para R$ 27,1 milhões), enquanto melhoraram o PIS/Cofins (de R$ 27,2 milhões para R$ 33,5 milhões) e as contribuições previdenciárias (de R$ 24,5 milhões para R$ 27 milhões).
Para manter o seu front de produção no impressionante nível de 18 milhões de toneladas de bauxita por ano, a MRN vai alterando a geografia das minas (quatro estão em produção), abrindo novas áreas de lavra e descompromissando outras, sem que os poderes públicos – estadual e municipais – acompanhem como deviam essa dinâmica, seja no sítio em si dos acontecimentos ou em seu reflexo nas práticas gerenciais e nos números das demonstrações financeiras. Hoje, embora não tenha retornado ao perfil societário de sua origem, quando era propriedade única da multinacional canadense Alcan, a Mineração Rio do Norte, que chegou a ter controle estatal, está completamente privatizada. E também deixou de ter maioria nacional. As quatro multinacionais que a integram já somam mais de 51% do capital, ficando os restantes das ações com a Companhia Vale do Rio Doce e o grupo Votorantim. Essa nova configuração nunca foi examinada e o status decorrente jamais estabelecido. Já é mais do que hora de fazê-lo.

São Raimundo se classifica para as semifinais do Parazão

O time do São Raimundo cumpriu o dever de casa e derrotou, ontem à noite, o Time Negra, por 2 x1 no estádio Barbalhão.
Os gols do Pantera foram marcados por Michel e Tarta. Moisés abriu o marcador para o Time Negra.
Com o resultado, o Pantera, líder do returno, soma 13 pontos ao lado do Paysandu e já garante vaga nas semifinais da Taça Estado do Pará.
Sábado, as 17 horas, São Raimundo e Paysandu se enfrentam no Barbalhão.
A delegação do Papão da Curuzu chega amanhã no início da tarde a cidade e fica hospedada no Barão Center Hotel, o bairro de Santa Clara.

A “febre” do ouro volta a esquentar a economia de Novo Progresso

Por Manolo Garcia:

A “febre” do ouro volta a esquentar a economia de Novo Progresso
A atividade garimpeira passou por fases de declínio na Amazônia, mas, nos últimos meses vem se fortalecendo com as altas que o minério vem sofrendo causadas pelo grande interesse pelo metal por investidores do mundo inteiro.

Em Novo Progresso sudoeste do estado do Pará na BR 163, a 1800 km de Belém, não é diferente, a extração aurífera neste município está aquecendo cada vez mais a economia local, com a reação no preço do ouro, aumenta a procura pelo metal mais valioso do mundo, novas jazidas são encontradas e antigos garimpos são reativados e despertam os interesses pela garimpagem até de quem não é do ramo.

Há cerca de quatro meses foram descobertos pelo menos cinco ricos filões no antigo Garimpo do Bom Jesus localizado a margem esquerda do Rio Novo nas proximidades do Porto Novo, município de Itaituba e distante cerca de 190 km da sede de Novo Progresso ou em torno de 35 minutos de vôo com aeronaves de pequeno porte. Atualmente é o garimpo que mais está chamando a atenção e já atraiu mais de 2500 trabalhadores para o local.

As informações que chegam dizem que por enquanto tem apenas um moinho para a moagem de rocha nesse garimpo, onde todos os garimpeiros fazem o procedimento para a extração do ouro e que esperam na fila a sua vez e, que mesmo assim é possível apurar no mínimo 5 kg do metal a cada 24h e por vezes atingiram a marca de 12 kg ao dia, mas, já estão chegando mais cinco moinhos que entrarão em funcionamento em breve.

Infelizmente, compradores clandestinos estão comprando o ouro lá no local e retirando de avião para o estado de Mato Grosso e para outros municípios do Pará, prejudicando a circulação da renda da venda do metal nos municípios da região. É notável a importância da atividade garimpeira para economia da cidade de Novo Progresso, os comerciantes consideram que há um bom alavancamento em suas vendas influenciado pela busca do ouro, acreditam também que com a chegada do período de estiagem vai aumentar ainda mais a movimentação, aja visto que, apesar de ainda ser considerados poucos, mas, tem gente fazendo novas sondagens e com bons resultados o que faz crescer as expectativas de crescimento no setor.

A diminuição da derrubada de mata e da extração de madeira gerou muitos desempregos na região agora é natural que os trabalhadores ociosos procurem novas alternativas de trabalho o que leva a crer que nos próximos dias haja uma corrida desenfreada pelo ouro na Amazônia.

Chuvas se intensificam até dia 1º de abril


O período de chuvas em Santarém e Belterra vai se intensificar até o dia primeiro de abril. De acordo com a previsão do serviço Agrometeorologia, ao qual O Estado do Tapajós teve acesso com exclusividade, no período compreendido entre os dias 23 de março e seis de abril, a previsão de precipitação é de 239 milímetros. No ano passado, no mesmo período, o índice pluviométrico foi de 160 milímetros.
Segundo a previsão, no dia primeiro de abril deverá chover num só dia cerca de 63 milímetros, quatro vezes mais que a média histórica diária. Mas a partir do dia 1º, a previsão é que as chuvas percam a intensidade, caindo para o índice abaixo de 15 milímetros diários, até o dia 6 de abril. No dia 5 de abril, a previsão de chuvas, por exemplo, é de 3 milímetros.
As freqüentes chuvas que caem em Santarém deixam ruas alagadas e pessoas prejudicadas. O nível da água da chuva sobre e invade as casas de moradores causando muitos estragos. Essa é uma realidade de muitos bairros em Santarém como Uruará, Aeroporto Velho, Jardim Santarém, Santarenzinho, por exemplo.
Moradores da Rua Magnólia, entre a rua Orquídea e Onze horas, no bairro Jardim Santarém, por exemplo, foram seriamente atingidos pela enchente da chuva na rua. "a gente tem que andar com água pelo joelho, é o único jeito, a minha casa foi alagada, a água entrou pela parte de trás e quando eu vi minhas coisas já estavam tudo molhadas" diz a moradora.
Uma parte da Rua Magnólia secou, mas outra continua alagada, com isso moradores ficaram sem condições de continuarem nas suas casas já que está impossível trafegar na rua e permanecer nas casas. 79 pessoas da Rua Magnólia foram levadas para um abrigo no Conselho Comunitário do bairro do Aeroporto velho onde permanecerão até que se tenham condições de retorno às moradias que ficarão fechadas até o nível da água baixar.
Essas 79 pessoas são pertencentes a 12 famílias que estão abrigadas no conselho comunitário. A Defesa Civil interditou a casa dessas famílias pelo fato de essas casas estarem em situação de risco e só poderão deixar o abrigo quando a ocorrência de chuva diminuir e suas casas estiverem fora de perigo. As famílias que estão no abrigo estão recebendo atendimento médico e alimentação com apoio dado pela defesa civil e pelos membros do conselho comunitário do Aeroporto Velho.
Mesmo com a água na beira da casa, alguns moradores insistem em ficar na casa. "as crianças saem para escola e tem que pisar na lama, a gente improvisa uma ponte até a porta para gente poder sair", declara a mãe do estudante. A passagem das pessoas pelas ruas alagadas oferece perigo de transmissão de doenças. Uma moradora da rua alagada diz saber dos perigos de andar pisando na água suja da rua, mas que é preciso sair de casa e continuar vivendo o dia a dia.
O período de chuvas em Santarém continua sendo motivo de prejuízos e danos à população que tem perdas materiais com a entrada da água da chuva nas suas casas. Os moradores têm objetos, móveis e outros pertences perdidos e que dificilmente são recuperados.
"Quando água da enxurrada da chuva entrou aqui, alagou minha casa e meus móveis ficaram no fundo, algumas coisas eu não perdi, mas o sofá ficou sem condições de usar, então com essa chuva aqui no Jardim Santarém a gente sofre muito", diz a moradora do Jardim Santarém.
A Defesa Civil informou que por enquanto outras famílias, além das que já estão no abrigo, não precisaram ser retiradas de suas casas para serem levadas para abrigos. O de defensoria pede que em caso de situação de risco nesse período de chuva a defesa civil e corpo de bombeiros devem ser acionados com urgência para que as pessoas sejam retiradas do local de perigo e transferidas para um lugar seguro.

Lúcio Flávio Pinto: O PRÍNCIPE HERDEIRO E NÓS CABOCLOS AMAZÔNIDAS


Especial para o Estado do Tapajós


O príncipe Charles dançou o carimbó em Santarém com um olho na dançarina e o outro em Londres. Ficou claro que, ante a eventualidade de a qualquer momento ser convocado para assumir o trono da mais importante monarquia do mundo, o herdeiro da casa dos Windsor está polindo a própria imagem - e também a de sua controversa esposa. Quer fazer o rito da passagem, deixando para trás as sombras ainda vivas da rainha Elizabeth, como as evocações da princesa Diana. Charles quer ser um verdadeiro rei, enquanto há tempo.
Qual outro líder mundial já se dispôs - ou manifesta disposição - a ir até Alter-do-Chão, nos confins amazônicos (da perspectiva de Londres, a expressão a usar pode ser mais grosseira), e se misturar com o povo, de tal maneira aparentemente natural que nem se consegue perceber a severa segurança real? O programa do príncipe combinou um rápido oficialismo, sem pompa e circunstância, com a característica que ele tenta associar ao seu nome: um cidadão do mundo, preocupado com a saúde do planeta, atento ao que se faz de melhor em todos os lugares, receptivo aos demais homens de boa vontade. O príncipe tem preferido se reunir mais com cientistas e nativos, que acumulam o conhecimento científico e o saber tradicional, do que com políticos.
Não há efeitos concretos ou imediatos desse jogo de marketing e relações públicas para a terra visitada? Se não há, a culpa é mais nossa do que da comitiva britânica. Se a Amazônia cede a força do seu nome à campanha de adensamento da figura do príncipe herdeiro, tanto para sua retórica quanto para os negócios "verdes" da fundação que ele preside, não se pode ignorar os efeitos da presença do futuro monarca. Ele colocou na pupila de centenas de milhões de pessoas as cenas do "paraíso perdido", que estariam ao alcance das vontades se também tivéssemos nossos próprios mecanismos de promoção e de marketing, ferramentas que não podem ser deixadas de lado quando se trata de auditório mundial.
Para todas as suas conseqüências (ou sua ausência), a visita do príncipe Charles a Santarém foi um acontecimento positivo. Pode ser efêmero e de pouca intensidade. Mas ao invés de transferirmos a responsabilidade para o visitante, por que não olhamos para nossa própria culpa? Estamos deixando ao acaso a tarefa de decidir por nós. Continuamos a encarar com um amadorismo indesculpável a missão que nos cabe: de manter a Amazônia à nossa imagem e semelhança. Antes, porém, tratando de nos colocar à altura da responsabilidade imposta por esse privilégio, como os donos do maior patrimônio de biodiversidade da Terra.
Se não conseguimos avaliar adequadamente esse valor e tratá-lo como ele merece, os visitantes farão isso por nós. Por isso o príncipe tentava acompanhar os movimentos sinuosos da dançarina regional com os olhos bem postos na capital londrina, de onde veio e para onde voltou, enquanto nós ainda parecemos não ter descoberto onde estamos: na Amazônia.

10% dos torcedores entram de graça nos jogos do Pantera


Suzana Pinto

Free lancer

No último jogo ocorrido no domingo, entre São Raimundo e Castanhal, 10.779 pessoas compareceram ao estádio Barbalhão para assistir à partida que rendeu R$ 82.800,00. O público pagante foi de 9.966 torcedores. A diretoria do Pantera lamenta, no entanto, que 813 pessoas não pagaram o bilhete de entrada, o que representa cerca de 10% do público presente ao estádio.
O acesso de pessoas que não pagam ingresso no Barbalhão agrava o prejuízo financeiro para a equipe do São Raimundo que, em virtude de um acordo com o Castanhal, o clube santareno receberia 100% nas arrecadações, mas no final do borderô a diretoria constatou que pouco mais de 50% da renda entrou nos cofres do Pantera.
É que da renda do jogo, 10% são pagos para a administração do estádio( a prefeitura) e outros 10% para a Federação Paraense de Futebol. Além disso, o time precisa quitar outras despesas como contratação de seguranças e fiscais de bilheteria e portões de acesso. O São Raimundo reclama, ainda, que as federações de outros estados cobram apenas 5% da renda do jogo, ao contrário da Federação Paraense de Futebol(FPF) que cobra uma das mais altas taxas do país, igualando-se apenas a São Paulo e Goiânia.
Portanto, a entrada de 813 pessoas contabiliza um grande prejuízo para equipe que tem o mando de campo. No jogo contra o Castanhal, cerca de 8 mil reais deixaram de ser arrecadados pelo clube. O interessante é que as pessoas que não pagam ingresso, os conhecidos 'caroans' não são os simples torcedores, são policiais civis e bombeiros não escalados para trabalhar, agentes penitenciários, parentes e amigos de integrantes da imprensa, funcionários da prefeitura de Santarém, sobretudo os da assessoria de esporte e lazer, diretores dos clubes e ainda 600 crianças. "É claro que as crianças com menos de 10 anos têm por direito não pagarem o ingresso e que se deve incentivar os pais a levarem os filhos para assistir ao jogo", reconhece um dirigente alvinegro.
Outro diretor do São Raimundo informa ainda que há, no Barbalhão, um portão por onde as pessoas se aglomeram para entrar sem pagar no estádio. O prejuízo do São Raimundo poderia ser maior se o clube não montasse um sistema de fiscalização com segurança e fiscais contratados pela diretoria do time.

Cassado mandato de vereador do Democratas

O juiz eleitoral Sílvio Maria cassou o mandato do vereador Chico da Ciframa.
No ano passado, as contas do vereador foram rejeitadas.
Com base nisso, o advogado Luiz Alberto Pixica ingressou com representação em nome do Partido Verde para que o mandato do vereador fosse cassado com base na decisão da Justiça eleitoral que atestou que Chico da Ciframa recebeu doação indevida de empresa concessionária de serviço público.

*Ir. Kevin... Saudades!

Ormano Souza

Em meio à programação de aniversário do Colégio Dom Amando, que transcorre
neste dia 14, fomos surpreendidos com a notícia do falecimento de Ir. Kevin,
nos EUA, no último dia 06. De jeito esguio, de estrutura física magra,
tranqüilo, sempre sorridente e exímio contador de piadas, ele nos deixa
saudades e tem história marcada na vida missionária na Amazônia.
Nascido no dia 24.09.27, Kevin Jerome Barey fez opção pela vida religiosa na
Congregação dos Irmãos de Santa Cruz, após dois anos no serviço militar, em
15.08.50. Fez seus primeiros votos em 16.08.51 e, quatro anos depois, fez
seus votos perpétuos.
Em 1956 veio para o Brasil. Trabalhou no Colégio Dom Amando e morava na
fazenda Diamantino, a oito quilômetros do colégio. Fundou, em 1961, a Escola
Santa Cruz, naquela comunidade. Desenvolveu também seu ministério em
Almeirim, por nove anos, e lecionou em várias escolas públicas em Santarém.
Foi eleito, por dois mandatos, superior da congregação – distrito dos Irmãos
no Brasil. Foi ecônomo da Diocese de Santarém na gestão episcopal de Dom
Tiago Ryan e de Dom Lino Vombömmel. Retornou aos EUA em 1997, onde fazia
tratamento de saúde vindo a óbito em 06.03.09.

Os argumentos da ministra Gracie para negar posse de Maria, mas suspender as eleições em Santarém

Aqui estão os principais pontos da decisão da ministra Ellen Gracie em manifestação sobre a AC 2294:

“Restrinjo-me nesse momento à verificação do requisito do perigo na demora. E ao fazê-lo, concluo que nada recomenda a posse precária da requerente [Maria do Carmo] na administração do município de Santarém quando próximo, ao que tudo indica, o julgamento de seu recurso extraordinário nesta Suprema Corte, já que admitido pela Presidência do egrégio Tribunal Superior Eleitoral. É que, no caso, o perigo na demora revela-se inverso, na medida em que eventuais sucessivas mudanças no comando municipalidade poderão gerar indesejável insegurança jurídica e graves riscos ao erário e à própria continuidade dos serviços públicos locais.

”Por outro lado, é inegável a proximidade da data fixada pelo TRE-PA, para a realização das novas eleições para elevados custos que adviriam das campanhas e da execução, pela Justiça Eleitoral, do próprio pleito, bem como a geração de novas expectativas do eleitorado e dos prováveis candidatos recomendam que se aguarde, primeiro, a definição a ser dada, por este Supremo Tribunal Federal, sobre a validade do registro da requerente, vencedora das eleições já realizadas.”